segunda-feira, março 31, 2008

Um Dia de Cão

Em Agosto de 1972 um assalto a um banco em Brooklyn - Nova Iorque - chama a atenção dos média e transforma-se num show com uma enorme audiência. Era um roubo que teóricamente duraria apenas dez minutos, mas após várias horas os assaltantes estavam ainda cercados com reféns dentro do banco. Sonny (Al Pacino), o líder dos assaltantes, planeou conseguir dinheiro para Leon (Chris Sarandon), o seu amante homossexual, fazer uma cirurgia para mudar de sexo. Enquanto tudo se desenrola a multidão apoia e aplaude as declarações de Sonny e fica revoltada com o comportamento da polícia.

Este poderia ser um argumento para um qualquer filme Grindhouse perdido no espaço e no tempo, mas a realidade ás vezes parece mais estranha do que a ficção. Deste modo, a história acima descrita é absolutamente verídica e o filme nas mãos de Sidney Lumet tornou-se numa obra prima do cinema dos anos 70. Teve seis nomeações e ganhou um Oscar. O Oscar foi para: melhor argumento original (Frank R. Pierson). E ainda foi nomeado para: melhor filme, melhor actor (Al Pacino); melhor actor secundário (Chris Sarandon); melhor realizador (Sidney Lumet) e melhor montagem (Dede Allen).

É uma obra de referência da década de 70, a par com outros filmes como Os Homens do Presidente e Os Incorruptíveis Contra a Droga. O filme acompanha de forma unilateral a visão do personagem de Pacino, que está presente em todas as sequências da longa-metragem, temos praticamente um "monólogo" interpretativo brilhante do actor, que indirectamente discute valores da sociedade, preconceitos e os mass média. Não há práticamente música ao longo da obra para realçar as emoções, que tomamos como verdadeiras: as sequências são tensas o suficiente para nos prender do princípio ao fim. Recheado com um humor-negro de uma era pré-Tarantino, principalmente pelas atitudes ingénuas de Sonny (Al PAcino), o filme é o perfeito exemplo de um género quase documental, muito em voga naquela década.

Um Dia de Cão mostra um Al Pacino frenético em inicio de carreira, um Sidney Lumet em plena forma e recomenda-se vivamente.

Por Favor Não Me Morda o Pescoço

Dos muitos filmes perdidos no tempo e que nos aquecem a alma, o filme de vampiros de Roman Polanski - The Fearless Vampire Killers, or Pardon Me but Your Teeth Are in My Neck - é sem dúvida um clássico. Rodado em 1967, este vampire spoof é um autêntico filme de culto pelas mais variadas razões; em primeiro lugar conta com a participação do então ainda jovem Roman Polanski, que interpreta um aprendiz de caçador de vampiros; depois conta também com a participação da inebriante Sharon Tate, que viria pouco tempo depois a casar com o Polanski, e anos mais tarde teria um trágico destino pelas mãos do psicopata Charles Manson; por outro lado tem uma mágnifica banda sonora de Krzysztof Komeda; e por último tem uma assombrosa fotografia e cenografia.
Em terras lusitanas estreou com o sugestivo nome Por Favor Não Me Morda o Pescoço, e é um equilibrio magistral entre comédia, suspense, erotismo e horror clássico a la Hammer Studios. O argumento também da autoria de Polanski conta a história de um velho investigador de morcegos (na realidade um caçador de vampiros muito sui generis), professor Abronsius e o seu assistente Alfred (Roman Polanski), que vão para uma remota aldeia da Transilvânia à procura de vampiros. Alfred apaixona-se pela filha da dona da estalagem onde pernoitam. Contudo, esta foi marcada pelo misterioso Conde Krolock que vive num castelo assombrado nos arredores da aldeia.
Na realidade este poderia ser um dos pontos fracos do filme, o facto do argumento ser de uma simplicidade absurda e assumir-se como uma história híbrida de todos os filmes do género. No entanto, e em termos práticos, o realizador consegue pintar um irresistível quadro barroco e pitoresco, brincando com todos os clichés do género e apoiando-se numa fotografia extraordinária. No que concerne á cenografia, esta é um mágnifico exercicio de estética, pontoada pelo rigor ao nível da sua construção, o que para um filme essencialmente rodado em estúdio é essencial.

Durante muitos anos este filme andou perdido por canais de televisão temáticos como TNT, ou mesmo em altas horas da madrugada de cinema da RTP1, não estando portanto acessivel a venda directa. Em 2004 a Warner Home Video resolveu editar o filme de Polanski em DVD, com imagem devidamente restaurada e em 16:9 e com um par de extras interessantes.
É um filme essencial para todos os amantes de Roman Polanski, pela simples razão de ser o filme mais atípico da carreira do realizador, e aquele que destoa mais da sua filmografia. Delicioso!

Trailer: aqui

sexta-feira, março 28, 2008

É Um Big Fuck You Para os Recentes Fãs de Moby

Não se deixem enganar pelo título deste post. Deixamos já claro que o novo album de Moby é um big fuck you, com mini caixotinho e tudo, para os fãs dos últimos albums de Moby, ou seja para quem estava á espera de mais da mesma pastelada...esqueçam! Para aqueles que, como nós, conheceram a energia post acid house de Moby nos anos 90 e nunca se convenceram pelo pop-zinho e pelo chill out da treta, preparem-se para uma boa surpresa.
Caros leitores sem meias palavras o album novo de Moby é um disco do c*****! O Sr. foi buscar as tr-909, as tr-808, as tb-303 (chinesada para alguns), os sintetizadores vintage e temos um album cheio de referências ao acid house, ao hip-house, ao summer of love de 89, aos sons rave dos anos 90, que tanto caracterizaram o inicio da carreira de Moby. É um disco que não deixa de ter as referências dos ultimos discos, mas que não cai na fórmula 2+2=4, é um disco em que práticamente não se houve a voz do dono.
Em suma para nós é o melhor album de Moby desde Play.

terça-feira, março 25, 2008

Booka Shade

Desde há uns anos a esta parte que a música electrónica deixou de estar confinada aos estúdios sombrios. Percursores do género como Underworld ou mesmo Chemical Brothers têm passado do quarto para as grandes arenas, provando assim que o formato live não é de todo descabido para este género músical. Na verdade serão praticamente estas bandas que foram as percursoras em provar que o publico pode ser surpreendido, fugindo unicamente ao mero carregar no botão play e "tomem lá o que está nos discos".
Por outro lado, a vitalidade destes projectos tem sido demonstrada, mas começa de há uns albums para cá a decair um pouco, basta recordarmos os ultimos discos tanto dos Underworld como dos Chemical Brothers para o podermos compreender.

Actualmente arriscamo-nos a dizer que existe um (ainda) pequeno projecto, cada vez menos leftfield e cada vez mais mainstream, que muito provavelmente serão a next big thing no que concerne a este género musical.

Os Booka Shade, dupla de produtores alemães, tem vindo a bombardear incessantemente os ouvidos mais atentos com os mais inventivos temas. Através da cada vez mais pequena editora Get Physical, esta dupla tem vindo a marcar território com o seu estilo muito próprio. Tendo sido em 2006, com o lançamento do album Movements, que os Booka Shade transposeram as suas delicadas produções para o formato ao vivo. E nasceram para o mundo uns monstros avassaladores ao vivo. Se pensam que é impossivel o publico entoar e cantar musicas instrumentais! Enganem-se desde já, pois é possivel e impressionante!Com uma mão cheia de hits como Body Language, In White Rooms, Oh Superman, Darko, os B.S. destroiem qualquer arena por onde passem. Aconselha-se a descoberta.

sexta-feira, março 21, 2008

O Mestre Roger Corman

Depois de ter estudado engenharia industrial (um trunfo segundo o realizador, para fazer filmes de baixo orçamento), Roger Corman movido pela sua paixão pela sétima arte, decidiu tentar penetrar no mundo do cinema. Começou a trabalhar como estafeta nos estúdios da 20th Century Fox, conseguindo subir a pulso até ao cargo de analista de argumentos. Tendo mais tarde começado a produzir e a escrever argumentos para o estúdio, e eventualmente a estrear-se como realizador em 1955. Entre meados dos anos 50 e 1971, ano em que se retirou oficialmente da cadeira de realizador, Corman filmou dezenas e dezenas de obras de referência, ficando mesmo conhecido como um dos realizadores mais rapidos a filmar da altura, tendo o record de filmar um filme em 2 dias.
Mas não se deixem enganar Roger Corman é uma figura de referência absoluta, venerado por colegas e amigos como Steven Spielberg, Sam Raimi e Jonathan Demme, entre outros. Corman é uma enciclopédia ambulante de cinema, detentor de um conhecimento profundo sobre filmes de série B e sobejamente conhecido por ter um coração de ouro.
Entre obras de referência ficaram o conjunto de filmes baseados nas obras de Edgar Allan Poe, rodados com o mítico Vincent Price (actor fetiche) entre os quais The Raven (1963), Tales of Terror (1962), Premature Burial (1962), Pit and the Pendulum (1961), House of Usher (1960) The Haunted Palace (1963), The Masque of the Red Death (1964), The Tomb of Ligeia (1964) , ; e outros tantos com argumento da sua autoria como: X (1963), The Trip (1967), The Red Baron (1971) , Frankenstein Unbound (1990).

quinta-feira, março 20, 2008

O meu Sonho Pai Natal é Ser o David Lynch Quando for Grande

Antes de mais, sempre nos assumimos como grandes fãs do filme de estreia de Richard Kelly - Donnie Darko. Achamos e continuamos a dizer que é uma primeira obra de génio, como na realidade há poucas, e um filme de culto imediato que nos deu a conhecer o actor - Jake Gyllenhaal.
Southland Tales, que já tinhamos feito mensão por aqui, demorou demasiado tempo a sair, é um projecto demasiado ambicioso para segunda obra, e sejamos francos é um espalhanço a todo o comprido para Kelly. Na realidade é fácil de perceber que Richard Kelly teve mundos e fundos ao seu dispôr. Um conjunto de actores que acreditou no projecto, muito provavelmente de olhos bem fechados, um argumento puramente Lynchiano que noutras mãos poderia ser minimamente interessante, mas o resultado é profundamente desanimador. Sem ponta por onde se lhe pegue!

O problema é que sentimos que Kelly quer ser o novo David Lynch a toda a força. Talvez possa pedir ao Pai Natal!

Para a história fica a sequência musical bem bolada de Justin Timberlake, com um look que não estamos habituados.

quarta-feira, março 19, 2008

Filmes de Culto para Dias de Chuva

Agora que se aproxima o fim de semana da Páscoa, que segundo as previsões será de chuva, deixamo-vos algumas sugestões para ficarem por casa. A primeira é Dead Zone, filme do enfant terrible David Cronenberg, com a participação de Christopher Walken e baseado na obra de Stephen King. É sem dúvida nenhuma o filme mais acessivel de Cronenberg, mas onde já se adivinham as imagens de marca do autor.
A segunda proposta é o fabuloso The Conversation de Francis Ford Coppolla, com a participação de Gene Hackman. É uma história com contornos de espionagem, sobre as implicações de uma operação de vigilância, com consequências desastrosas. Imprescindível.
A terceira proposta vem pela mão de Walter Hill e chama-se The Warriors. É uma visão que muito deve á BD das guerras de gangs na cidade de Nova Iorque, extremamente estilizado e com uma banda sonora de referência. Deste filme avizinha-se um remake para breve.

quinta-feira, março 06, 2008

Vamos a Matar, Compañeros

Após iniciar a carreira como assistente de realização para o grande Sergio Leone, o cineasta italiano Sergio Corbucci seguiu firmemente os passos do mentor para se firmar como o segundo mais importante realizador de spaghetti westerns. É ele o autor da popularíssima série de filmes com o personagem Django. Entre os aficcionados do gênero, Corbucci ficou conhecido por uma alcunha pitoresca - o outro Sergio. Boa parte da crítica considera Compañeros (Vamos a Matar, Compañeros, Itália/Espanha/Alemanha, 1970) como a obra-prima de Corbucci, e também o melhor filme do estilo que não teve a mão de Leone.
O filme é uma obra marcante na carreira do cineasta e funciona como uma excelente introdução ao seu universo. A qualidade da presente obra é atribúida ao argumento levemente político e inspirado na Revolução Mexicana, tema bastante melhor explorado que em - Uma Bala para o General (1967) - de Damiano Damiani.

Na prática, o filme de Corbucci é uma bela alegoria de clichês narrativos do western spaghetti. Podem encontrar de tudo: o pistoleiro cínico e imoral, o nativo que funciona como o comic relief, um vilão misterioso de hábitos excêntricos, o visual ofuscante de terrenos empoeirados, o céu azul do deserto Almeria (Espanha) e a banda sonora do mestre Ennio Morricone. Como moldura, Corbucci acrescenta todas as suas marcas de autor, pautadaspor uma dose abundante de humor negro e o seu actor fétiche - Franco Nero.Como em grande parte dos western spaghetti, toda a dinâmica do filme é criada entre dois personagens que se odeiam, mas por força das circunstâncias são obrigados a agir em conjunto. O ênfase visual da fotografia de Alejandro Ulloa está nas paisagens secas, iluminadas com luz ofuscante, e nos olhos azuis de Franco Nero – daí a abundância na quantidade de close up do rosto do actor italiano. Compañeros é um filme divertido, que se apoia de modo certeiro no seu tema musical, composto por Ennio Morricone.

O DVD da Anchor Bay está com uma excelente imagem (widescreen 2.35:1 anamórfica) e som (Dolby Digital 2.0, em inglês). Há ainda um trailer e um pequeno documentário (18 minutos) que inclui entrevistas dos actores Nero e Millian e do compositor Ennio Morricone.