quinta-feira, outubro 29, 2009

Um Lobisomem Americano Em Londres (1981)

Numa época em que os grandes estudios de Hollywood, e não só, investem milhões de dólares em produções pejadas de efeitos especiais com recurso ao CG, e principalmente, num período onde a esmagadora maioria dos frequentadores dos cinemas são jovens e adolescentes acostumados às imagens e ritmos frenéticos popularizados através da “geração MTV”, parece cada vez mais difícil um filme atravessar décadas e ainda ser considerado um clássico referencial, com potencial jamais superado dentro do seu respectivo género. Dentro desse selecto grupo de pérolas, no topo da lista estará certamente Um Lobisomem Americano em Londres, dirigido por John Landis em 1981.
O filme tem inicio com o genérico de abertura, intercalado pelas imagens das desoladas e inóspitas paisagens do interior da Inglaterra, ao som de “Blue Moon” interpretado magistralmente por Sam Cooke. A noite cai e a negritude do céu não promete nada de bom, quando então vemos uma carrinha de caixa aberta, repleta de ovelhas, parar num cruzamento. Do meio das ovelhas saem David Kessler (David Naughton) e Jack Goodman (Griffin Dunne), dois amigos norte-americanos que estão passeando pela Europa. O motorista da carrinha indica-lhes o caminho até á vila mais próxima, e adverte-lhes para que “evitem os pantanos e fiquem na estrada” (hello! Capuchinho Vermelho written all over it). Os dois jovens seguem caminhando e conversando descontraidamente, hora reclamando do frio, hora motivados com as expectativas da viagem. Sendo nesses momentos iniciais que se percebe a perfeita química entre os dois jovens actores, que de certa forma quase convencem o espectador de que eles são realmente grandes amigos e que se conhecem desde infância. Essa empatia entre o público e os personagens é fundamental para que as cenas posteriores causem o devido impacto a que se propõem.
Paralelamente ao enfoque dado ao suspense e terror, o filme também dá introduz de forma extremamente inteligente o humor, que a partir daqui passou a ser um elemento incorporado em quase todos os filmes de terror desenvolvidos ao longo da década de 1980. Mas quando se fala em humor, é preciso que se tenha a noção de que se trata de um humor subtil e ocasional, e não de algo forçado e que inevitavelmente descamba para a escatologia. Recomenda-se á fartazana.

segunda-feira, outubro 26, 2009

Halloween (1978)

Na noite de Halloween, o psicopata Michael Myers foge do hospital para doentes mentais onde fora mantido prisioneiro durante quinze anos e coloca a pequena cidade de Haddonfield em panico. Esta foi uma das permissas mais simples da história do cinema e que deu origem a um dos filmes mais influentes de terror de todo o sempre, tendo o mesmo inclusivé dado origem aquilo que se viria hoje a chamar de "slasher movie".
Realizado por um então desconhecido e estreante Jonh Carpenter, Halloween foi rodado em apenas 21 dias durante a primavera de 1978, com um orçamento reduzidíssimo de 300 mil dólares. O resultado foi um dos grandes clássicos do cinema de horror que influênciou diretamente slasher movies como Sexta-Feira 13. Suspense doseado de forma magistral, tensão constante, sem derramar uma gota de sangue ao longo de todo o filme. Carpenter aprendeu com Hitchcock que o medo causado pelo que não se vê é muito maior, o que torna desnecessário a violência explícita. Este detalhe é o que torna Halloween superior a filmes similares.
A atriz Jamie Lee Curtis, que interpreta competentemente a jovem Laura Strodie (nome da primeira namorada de John Carpenter), foi recrutada para fazer Halloween por causa da publicidade em torno do seu nome, já que ela era filha de Janet Leigh, que entrou em Psycho (Alfred Hitchcock). Donald Pleasence dá vida ao obestinado Dr. Loomis.
Como o orçamento para rodar Halloween era escasso, a máscara escolhida para ser utilizada por Michael Myers foi a mais barata encontrada numa loja próxima das filmagens, que era exatamente igual à utilizada por William Shatner no filme The Devil's Rain. A máscara sofreu algumas pequenas mudanças, sendo pintada de branco e o contorno dos olhos sofreriam modificações. Ainda para contornar problemas de orçamento, os actores usaram as suas próprias roupas durante as filmagens, já que não fora contratado ninguém responsável pelo guarda roupa.

sábado, outubro 24, 2009

Goemon (2009)

E pronto apertem os cintos de segurança, cuidado se forem epiléticos, cuidado se forem fotossensiveis e preparem-se para o novo filme operático do visionário mestre dos filmes de cinema fantástico nipónico - Kazuaki Kiriya. Depois da impressionante primeira obra, um pequeno filme chamado Casshern (e sim estamos a ser irónicos!) baseado no Manga homónimo, eis que nos chega cinco anos depois Goemon, uma nova adaptação de um Manga, mas também uma reinterpretação de um herói mítico para os nipónicos, sendo este o equivalente a um Robin Hood sob efeito de LSD.
Sejamos honestos, pois onde Casshern abusava no esquema operático, denso e trágico da história, em Goemon a história é igualmente densa, mas sobejamente mais light. O filme acenta igualmente numa esquemática retrofuturista, apesar de ser um filme de época, facto que fora algo de fresco aquando da estreia do seu irmão Casshern.
Os trunfos de Kazuaki Kiriya são o passado de fotografo na área da moda ao serviço de nomes famosos como Alexander Mcqueen, Bjork e Jean Paul Gaultier, a capacidade de fazer muito com "não muito dinheiro" (apesar de Goemon ter custado os olhitos da cara) ao estilo de Mario Bava e a sua capacidade visionária estética.
Os filmes de Kazuaki Kiriya são sobretudo obras de arte estéticas, autênticos assaltos aos sentidos, onde a música ocupa um papel fulcral, conferindo coesão operática ás obras. Estamos sobretudo perante obras visualmente assombrosas, em que cada um dos frames são impressionantes quadros impressionistas. Recomenda-se absolutamente sem restrições, com o som bem alto e de olhos bem abertos para não perderem nenhuma imagem!

quinta-feira, outubro 15, 2009

O Homem que Odiava as Mulheres (1968)

Os assassinatos em série que chocaram a cidade de Boston nos anos 60 são a história central deste inesquecível suspense policial, filmado num estilo semi-documental, algo de novo para a época, tendo sido inclusivé um filme de enorme importância do ponto de vista técnico, introduzindo a técnica de split-screen pela primeira vez, imprimindo ao filme uma montagem de enormre complexidade para a época.
A acção mostra a investigação maciça desenvolvida para descobrir o responsável pelo terror espalhado pelas mulheres de Boston durante dois anos. Na vida real De Salvo foi preso em Novembro de 1964 sob a acusação de estuprar cerca de 300 mulheres desde 1962. No início, ele não era suspeito de ser o assassino que estava aterrorizara Boston naquela época. Porém, após uma série de interrogatórios, acabou por confessar não apenas os 11 assassinatos que lhe eram atribuídos, como também outros dois que a polícia não havia associado ao psicopata. No entanto, a única testemunha que sobreviveu ao ataque não reconheceu De Salvo, e até hoje suspeita-se que ele tenha assumido os crimes de outro homem, apenas por vaidade. Sabe-se que De Salvo tinha problemas mentais, e há policiais que acreditam na possibilidade de ele ter recebido dinheiro do verdadeiro assassino para assumir os estrangulamentos.
Henry Fonda interpreta um investigador da polícia. Tony Curtis brinda-nos com uma magnífica interpretação no papel do psicopata que Fonda procura desesperadamente. Filmado em estilo de documentário que confere um certo sentimento de realismo aos horríveis acontecimentos, O Homem Que Odiava as Mulheres é um dos filmes de refência da década de 70.

sexta-feira, outubro 09, 2009

The Hurt Locker (2009)

The Hurt Locker é o novo filme da cineasta Kathryn Bigelow (Ruptura Explosiva e Estranhos Prazeres), ex-mulher de James Cameron e foi o grande vencedor do Leão de Ouro do festival de cinema de Veneza (melhor filme). É Uma invulgar abordagem cinematográfica da guerra, com o conflicto no Iraque como pano de fundo, em que se questiona o lado vicioso da batalha. Kathryn Bigelow filma o dia-a-dia de uma unidade de elite do Exército que desmantela bombas em Bagdad, penetrando na intimidade e na mente de homens que foram para a guerra como voluntários e para quem o campo de batalha tanto significa adrenalina, como atracção e vício. Um pelotão numa cidade de potenciais inimigos em que qualquer objecto pode ser uma bomba. E o perigo não está exclusivamente no campo de batalha nem o inimigo apenas do outro lado da barricada. Mark Boal, jornalista e argumentista, utiliza as suas próprias experiências ao lado de soldados americanos no Iraque para construir este argumento (como já tinha feito em "No Vale de Elah", de Paul Haggis).
É um filme visceralmente intenso que coloca o espectador sob tensão em cada frame e é sem dúvida o melhor filme de Bigelow até á data, ficando também este marcado pelo excelente desempenho de Jeremy Renner na pele do audaz (ou será inconsciente!) SSgt. William James, que desmantela bombas como quem vira Hamburgers num qualquer restaurante do McDonalds (sempre quisemes usar esta metafora!). Recomenda-se sem restrições.