terça-feira, janeiro 29, 2013

Luther

Comecemos por constatar que a caixa mágica anda bem mais interessante do que o grande ecrã, mas se pensarmos nas séries da BBC One, bem aqui a história é bastante diferente, estamos a falar do "interessante" ao nível da estratosfera. Existe algo de bastante peculiar na produção de séries como Sherlock, onde o típico formato do conceito de season com os seus 12 a 24 episódios não tem lugar, aqui existe uma clara aposta no conteúdo, na história, economia de argumento e na honestidade de não encher chouriços com episódios sem importância ou relevância dramática. Luther é uma dessas séries, diríamos mesmo é "A" série mais inteligente, subversiva, perversa e surpreendente dos últimos anos.
Luther é também um grande actor britânico chamado Idris Elba, que parte para os EUA no inicio dos anos 90, está cerca de 4 anos à procura de trabalho como actor, para entrar numa série de referência chamada The Wire, da corpo e alma à personagem de um traficante de droga durante 3 anos, foi tão convincente que só na terceira ronda de casting os produtores descobriram que o actor era britânico; recentemente dá um enorme salto e  entra em filmes como Prometheus e mais recentemente foi lhe entregue o papel principal no próximo filme de Guillermo del Toro - Pacific Rim. A resumida história do actor tem um papel preponderante para percebermos que gosta de correr riscos, sendo já depois de ter feito filmes como Thor, ou Prometheus de Ridley Scott, que lê o argumento de Luther e decide fazer a pequena série no seu pais de origem. A aposta foi mais do que ganha, Idris Elba cria um personagem complexa de culto imediato, que tem já uma enorme legião de fãs, ganhou este ano um globo de ouro como melhor actor de uma série dramática.
Estamos perante algo de genuinamente fresco, que reescreve as regras da mais comum série policial e que irá sem dúvida nenhuma deixar uma enorme marca no panorama televisivo.

quinta-feira, janeiro 17, 2013

Argo (2012)

Depois de ver o novo filme de Ben Affleck ficamos com duas ideias distintas, por um lado fez muito bem ao actor/realizador a "caminhada no deserto" que teve de enfrentar após um par de maus filmes enquanto actor, ou como George Clooney gosta de chamar "movie jail", onde também permaneceu algum tempo após o atroz Batman & Robin. Consequentemente ficamos com a ideia, como já acontecera com outros, que de um actor mediano poderá nascer um realizador surpreendentemente competente e quem sabe "bom".
A carreira de realizador de Ben Affleck é ainda curta, mas fulminante, com filmes como Gone Baby Gone, The Town e agora com Argo. As influências são muitas, mas ao vermos filmes como The Town possuido pelo espírito de Michael Mann, ou mesmo o Eastwoodiano Gone Baby Gone, ficamos com a sensação de Affleck estar à procura de uma voz, de um estilo próprio que até agora continua por encontrar, no entanto uma coisa é certa o género de eleição até à data é o thriller/crime movie.
Argo é um objecto extremamente curioso, indo beber inspiração aos filmes da década de 70, onde o logo inicial da Warner Brothers típico da època começa logo a ditar as regras, onde o fantasma de filmes como os Homens do Presidente, Os Três Dias do Condor e Dia de Cão estão omnipresentes. A grande surpresa em Argo resulta de uma fusão sublime de géneros, extremamente e competentemente bem equilibrada, passando do thriller político para uma sátira feita à meca do cinema e por momentos de comédia hilariantes. Argo è também um filme sobre cinema, sobre os bastidores do cinema, a fazer lembrar por vezes Walking The Dog de Barry Levinson, sem nunca se comprometer com nenhum género em particular mas sim pulando   e alternando entre cada um deles.
É um filme absolutamente recomendável de um realizador que cresce de filme para filme, a fazer lembrar o inicio da carreira de Clint Eastwood enquanto realizador.        

terça-feira, janeiro 08, 2013

Django Unchained (2012)

A história dos EUA não se fez com a maior das diplomacias, fez-se com sangue! É curioso que uma das maiores potências mundiais tenha uma das mais curtas histórias de que há memória, o novo mundo como outrora o chamaram é um país de contrastes, onde algumas das ideias e sentimentos que povoam o filme de Tarantino ainda persistem na penumbra. É do conhecimento comum para o mais comum dos americanos, que o Sul não é tão livre como outros estados norte-americanos do norte, costa este ou oeste. E é aqui que o filme de QT se torna um objecto interessante, de uma coragem brutal, propondo-se a falar sobre algo que ainda persiste veladamente na história americana, e é aqui que surge o maior elo de ligação entre Django Unchained e Inglorious Basterds. É fácil "samplar" o típico filme de guerra dos anos 60/70, é relativamente fácil abordar o tema holocausto baralhando as cartas e voltando a dar sob a forma de um objecto lúdico, sem melindrar as vítimas do mesmo. É que aqui existe um distanciamento critico, o mal vem de fora, de uma outra nação, sob a forma de um Hitler ridicularizado, ao passo que em Django o mal está no seio da nação americana, sob a forma da escravidão. Nos dias que correm e com tudo o que vem acontecendo no mundo, com filmes que retratam a perseguição e o abate de Bin Ladden, é raro e corajoso ver um realizador americano colocar o dedo na ferida, é normal que isso incomode personalidades como Spike Lee, mas se tivermos que esperar alguma coisa de Quentin Tarantino é o inesperado.
Django Unchained é talvez o filme mais linear de QT, uma enorme homenagem ao western spaghetti e a cineastas como Sergio Leone e Sergio Corbucci, é uma ode ao sampling cinematográfico de género, é o equilibrio perfeito entre um mais pausado Inglorious Basterds e um furioso Kill Bill, contando com representações memoráveis tais como um DiCaprio a rebentar a escala e o inspiradíssimo Christopher Waltz. 
Há cinco anos atrás QT referiu-se ao filme da seguinte forma: “Quero criar filmes que lidem com o horrível passado de escravatura da América, mas fazê-los como western spaghetti (...) enfrentarão tudo aquilo com que a América nunca se defrontou por sentir vergonha".
Para o Palhacinho do Demo é o melhor filme de 2012.