Quando a
soma das partes é simultaneamente melhor e diferente do que o todo. Poderia ser
este o título de mais uma crítica cinematográfica do Palhacinho do Demo, mas
optamos por lhe dar o nome do filme que estreou em 1980 nos EUA,
realizado/editado por um senhor chamado Robert Houston. O paradoxo de Shogun
Assassin tem origem no facto do seu realizador não o ter dirigido, mas sim ter
recorrido simplesmente à sua montagem e edição. Confusos? Pois bem, a nossa
história de hoje começa no papel, mais concretamente no Manga criado pelo
escritor Kazuo Koike e pelo ilustrador Goseki Kojima, ao qual foi dado o nome
de Lone Wolf and Cub e que viria a ser adaptado para cinema nos anos 60 no
Japão. A história deu origem a 6 filmes niponicos, tendo os primeiro dois sido
adquiridos para o mercado norte americano por Robert Houston, que numa atitude tipicamente
americana, decidiu pegar nos dois primeiros filmes, editá-los, adicionando uma voz off e
transformando todo o material num filme único ao qual chamou Shogun Assassin,
numa espécie de remix flick dobrado em inglês.
A ideia mirabolante
teria tudo para correr mal e para se tornar num objecto atroz, mas vá se lá
saber porquê a "coisa" resultou, por incrível que pareça. Shogun
Assassin é uma montanha russa impiedosa com muita tinta vermelha à mistura, é
incrivelmente melhor que os originais e é um dos poucos casos em que a dobragem
eleva o filme para uma dimensão completamente diferente.
A
história é simples, temos um samurai que serve um senhor feudal, este por seu
lado enlouquece e o samurai insurge-se, como consequência o senhor feudal manda
matar o dito mais a família. A tentativa sai gorada, apenas tendo sido
assassinada a mulher do nosso herói, que foge com o filho, não sem antes matar
um número incontável de tipos pelo caminho e jurar vingança. A história é do
mais simples que existe, mas ganha contornos épicos com algumas cenas
clássicas, como aquela em que o nosso herói dá a escolher ao filho, que ainda
mal gatinha, o caminho da paz ou do inferno, colocando à sua frente um sabre e
uma bola de brincar, para que ele escolha o caminho que quer seguir. Claro está
que o petiz toca na espada e lá vão pai e filho pelo mundo a matar tipos até
chegar ao big boss.
É um
grande filme, será mesmo impossível alguém ficar indiferente aos 80 minutos
alucinantes de uma das inspirações de Quentin Tarantino quando fez Kill Bill, o
que inclusive está implícita na cena em que a filha da heroína de Kill Bill
pede à mãe para verem juntas Shogun Assassin. E tal como está escrito no cartaz do filme de facto "It´s impossible to keep a body count"
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