Assistir a "Casshern" é como ter assistido ao "Star Wars" na época do seu lançamento. Na realidade, "Casshern" é tudo o que George Lucas gostaria de ter realizando na visita à sua "sextologia" e não consegue. Perdoem-me, chamem-me herége, mas ainda estou a recuperar o fôlego...
Pois bem, "Casshern" não é uma trilogia, não acaba em aberto, mas é um épico como nunca se viu antes. Há muitas razões para o público em geral se satisfazer com "Casshern": é uma aventura futurísta grandiosa, visualmente deslumbrante, conta com cenas de acção inesquecíveis, trata-se de um marco tecnológico (e um dos maiores expoentes do cinema digital), é um libelo contra a guerra, a intolerância e a violência - e por isso atemporal.
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Mas "Casshern" não é um filme de acção, façam o favor de esquecer o trailer (magnífico, embora equivocado - o próprio realizador fez questão de assinalar isso em entrevistas). O filme medita acerca da violência, quando não acaba a virar o rosto para as cenas de batalha. O filme é a história de uma família partida pela guerra e pelo conflito de gerações. E para nos contá-la o argumento, vai misturar religião, política, filosofia, ética, ciência e espiritualidade no mesmo saco, sempre de maneira relevante e inteligente, nunca de forma gratuita e nunca se perdendo, para acabar criando a sua própria mitologia.
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Estamos num futuro em que o mundo se encontra dividido entre a República da Ásia e a União Européia, que guerreiam pela supremacia do continente. No seio da família Azuma surge um conflito entre o pai -o professor Azuma (Akira Terao) - um cientista que busca patrocínio para a pesquisa de "neo-células" (uma alusão à pesquisa de células-tronco), visando a recuperação de sua esposa (Kanako Higuchi) - e o filho, Tetsuya (Yusuke Iseyda), recém noivo de Luna (Kumiko Aso). Tetsuya repreende a obsessão profissional do pai achando que ele deveria estar ao lado da mãe; o Prof. Azuma repreende o filho por se ter alistado no exército para lutar na guerra. Como os dois não conseguem fazer a cabeça um do outro, acabam por se separar pelos seus próprios interesses. A guerra acaba, a pesquisa ainda não deu frutos e Tetsuya...não conto ehehehe
A primeira metade do filme mostra-nos o estado dos laços familiares e como esse núcleo é separado pela guerra e pela morte. "Casshern" vai abusar dos fãs da narrativa directa a incorporar um elemento que só pode ser comparado ao monolito em "2001: odisséia no espaço": um relâmpago solidificado que dá vida aos neo-humanos (poderia ser Deus? poderia ser a tecnologia?). Assim como no filme citado, o mistério é deixado como tal, permitindo ao espectador tecer a sua teoria. É aí que se encontra, talvez, o grande diferencial: ao trabalhar no campo das idéias, "Casshern" decepciona o espectador passivo, que não quer pensar, que PRECISA de uma história mastigada, que não admite a liberdade interpretativa que lhe é dada pelos criadores.
É um colosso de filme, de um realizador estreante.
TRAILER (Lembrem-se o trailer vende o filme não o define):
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