sábado, outubro 08, 2005

JSA (palhacinho recomenda vivamente)

Joint Security Area foi o primeiro de três filmes exibido na Cinemateca Portuguesa, no âmbito das comemorações dos 40 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre Portugal e a República da Coreia, tendo contado com a presença do embaixador daquele país em Portugal, bem como outras individualidades, incluindo o embaixador do (agora amigo) estado indonésio. Antes da projecção, e precedendo uma curta apresentação pelo embaixador coreano, o presidente da Cinemateca fez um resumo do panorama do cinema coreano mais recente e onde realçou a importância do presente filme.
JSA tem sido superficialmente comparado a Shiri, também com Song Kang-Ho, uma vez que ambas as obras focam as tensas relações entre as duas coreias, numa altura em que a reunificação parece cada vez mais próxima. Mas Shiri é um filme de acção, com uma componente romântica não muito bem sucedida, e JSA é um filme sério, coerente, e que consegue percorrer habilidosamente a via da ambiguidade, evitando sempre apontar bons e maus. Em Shiri, todos os coreanos são tendencialmente bons, e os maus da fita são um grupo de rebeldes do norte, descontente com a política do seu estado – um expediente não raro em certos filmes de Hollywood, como modo de apresentar um inimigo estrangeiro sem marginalizar o povo e a nação de onde são originários.
Há em JSA de Park Chan-uk (Sympathy for Mr. Vengeance, Oldboy) aquilo a que se pode chamar de mensagem socio-política positiva, sendo fácil de entender porque é que o filme foi um esmagador sucesso no seu país de origem, destronando Shiri da primeira posição do top de bilheteira na Coreia do Sul (onde se aguentaria até à estreia de Friend). No entanto, parece-me desnecessário desenvolver o tema, já que isso implicava descrever as ramificações do guião, a partir da premissa inicial. Não existindo propriamente um final “feliz” – a ambiguidade chega a esse ponto –, no meio das desgraças, infortúnios e mortes, subsiste uma certa satisfação com o desenrolar dos acontecimentos, mais substanciada numa certa esperança para o futuro, do que em noutra coisa qualquer.

Há dois elementos no filme que merecerão um destaque final. O primeiro é o trabalho dos dois actores principais, Song Kang-ho e Lee Byeong-heon. Song voltou a protagonizar um filme de Park Chan-uk, Sympathy for Mr. Vengeance, onde tem uma interpretação ainda mais marcante, novamente ao lado de Shin Ha-gyun (o soldado nortecoreano que o acompanha em JSA). A segunda nota digna de registo é o facto do filme ter como personagem central uma mulher atraente que não é usada como “interesse romântico”.
cinedie asia © copyright Luis Canau

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