quinta-feira, abril 24, 2008

Os Estúdios Shaw Brothers

Os estúdios Shaw Brothers dos irmãos Shaw, Sir Run Run Shaw & Runme Shaw, são uma parte fundamental da história do cinema chinês. Os seus filmes, que vão desde as artes marciais e kung fu, à ópera Huangmei, passando pela comédia, marcaram desde a década de 40 até aos nossos dias o cinema chinês “made in” Hong Kong, na altura ainda colónia britânica, separada do “mainland”. A verdade é que sessenta anos do actual cinema chinês foram moldados por esta dupla de irmãos, tanto em termos de indústria - os Estúdios Shaw são a maior companhia produtora de filmes de Hong Kong – como da própria estética dos géneros dominantes na produção chinesa. Realizadores como Lau Kar-leung e Chang Chen, ou o mais conhecido King Hu, construíram as suas carreiras e a sua fama graças aos irmãos Shaw. King Hu é lembrado por filmes como “Come Drink With Me” de 1966, onde inovou o género ao dirigir um filme de artes marciais diferente daqueles feitos por Chang Chen, uma vez que colocava mulheres no papel de protagonista principal, que centra a sua história num romance, em vez de mera acção e lutas.
Os anos dourados das produções Shaw foram, sem sombra de dúvida, os anos 60/70 do século XX, quando começaram a produzir de modo intensivo os filmes de artes marciais que rapidamente invadiram os mercados mundiais com êxito retumbante. Os estúdios criaram algumas das maiores estrelas do cinema chinês da altura, como são Lin Dai e Li Han Hsiang, actores e realizadores que passaram quase toda a sua carreira a trabalhar para os irmãos Shaw. Se os Shaw e o seu império cinematográfico familiar, tiveram uma enorme influência no cinema de Hong Kong, mas também no cinema chinês no seu conjunto, a sua evolução é um espelho das vicissitudes sociais e históricas da China contemporânea.

Mas seria em 1958 que os irmãos Shaw enfrentariam o maior desafio das suas vidas: a construção de um estúdio de cinema na Baía de Clearwater. O “estúdio” tinha seis plateaus independentes, um edifício administrativo, um estúdio para gravação e mistura de som, uma cantina e dormitório para os funcionários. Quando a construção terminou em 1967, quase dez anos depois de iniciadas, existiam 12 plateaus independentes, que permitiam a filmagem de uma dúzia de filmes em simultâneo. A Shaw Brothers subiu de uma média de filmes anual de 12 para 40. Mas, o que faz deste gigantesco estúdio um prodígio é o facto de estarem montados permanentemente, muralhas de cidades históricas chinesas, palácios, ruas e lojas, pontes e rios, permitindo produções massificadas, com custos mais baixos. Enquanto a concorrência fazia dramas sobre a classe média urbana, os estúdios Shaw centravam a produção nos épicos históricos, na ópera huangmei e, mais tarde, nos filmes de acção e kung fu, que serão a sua mina de ouro. Os funcionários viviam literalmeente nos estúdios com as suas famílias, tendo o trabalho passado de gerções em gerações.
Salienta-se algumas obras fundamentais (essenciais mesmo) para quem tem curiosidade, e para aqueles que pensam que os filmes de kung fu não podem ser complicados: o fabuloso Come Drink With Me (trailer aqui), a obra prima The Killer Clans (trailer aqui), o brilhante One Armed Swordsman (trailer aqui) e para nós aquele que é um marco na história dos Shaw Bros - Vengeance (trailer aqui), sem este não havia Kill Bill, e o Sr. Tarantino reconhece.

segunda-feira, abril 21, 2008

Ensaio Sobre A Cegueira Segundo Meirelles

Blindness é o novo filme de Fernando Meirelles que adapta a obra aclamada de José Saramago. Muito provavelmente estão reunidas as condições para que este se torne num dos filmes do ano; seja pelo realizador (Meirelles já nos presenteou cinema da mais alta qualidade como é o caso de Cidade de Deus e O Fiel Jardineiro), seja pelo elenco (onde figuram os nomes de Julianne Moore e Mark Ruffalo), seja pela história forte e poderosa que Saramago imaginou; se o escritor vendeu os direitos da mesma é porque confia, a partida, no resultado "visual" - palavra curiosa quando falamos do problema da cegueira - que lhe foi prometido (de notar que uma das exigências de Saramago foi o facto de o filme não se passar num país que seja reconhecível, para que permaneça incógnito e misterioso).
in Deuxieme
Trailer: Blindness

Podia Ter Sido Ainda Melhor

Vamos então lá ver porque tanto se fala acerca deste filme! Na senda do sucesso comercial que foi Cloverfield e já distantes do sucesso, pelos menos de marketing, que foi Blair Witch Project, surge-nos este [REC] dos espanhóis Jaume Balagueró & Paco Plaza. [REC] conta a história de uma repórter de TV e do seu operador de câmara que seguem um grupo de bombeiros da cidade de Barcelona. Depois de receberem uma chamada de uma senhora que diz estar presa dentro de casa, eles chegam ao prédio onde ela mora e ouvem gritos apavorantes - que dão início a um longo pesadelo e a uma reportagem nunca vista antes.
[REC] foi o vencedor do Fantasporto nas categorias de Audience Jury Award, International Fantasy Film Award e Best Film. A originalidade da premissa do filme é bastante discutível, na realidade este é mais outro dos filhos do género blair wicth com câmara ao ombro, que nos reserva um salto na cadeira a cada esquina, um rosto tenebroso a aparecer repentinamente no ecrã de quando em quando, faltas de luz constantes e um prédio infestado de zombies, daqueles que correm como o camandro!
Mas agora a pergunta que todos querem ver respondida é: O filme é daqueles de morrer de medo? De tapar os olhos com a mão? Bem na realidade nós aqui no palhaço não chegamos a tanto, muito pelo contrário, as expectativas foram postas com uma fasquia demasiado elevada devido a tanto sururu acerca do filme.
É um filme de terror decente, escorreito, original até certo ponto, mas onde só tapamos os olhos nos últimos 10 minutos. Aí sim, nunca imagens do tipo night vision foram tão aterradoras! Como era de esperar o remake Amarikano vem para breve e chama-se Quarantine.
E já agora, que ideia foi essa de arranjar uma miúda portuguesa possuída, como a génese da epidemia zombie do filme. Kudos! Kudos!

quinta-feira, abril 17, 2008

Ainda Sobre GITS


Ainda na senda dos rumores, que começam a ganhar forma, sobre a adaptação live action de GITS para o grande ecrã...


Some ready amazing news hit the web tonight as it was announced that DreamWorks has acquired rights to the Japanese manga Ghost in the Shell with plans to adapt the futuristic police thriller as a 3-D live-action feature! The kicker of the story is that the deal was sealed because of Steven Spielberg's passion for the original. Read on for the skinny.The story follows the exploits of a member of a covert ops unit of the Japanese National Public Safety Commission that specializes in fighting technology-related crime.Created by Masamune Shirow, "Ghost in the Shell" was first published in 1989. It went on to generate two additional manga editions, three anime film adaptations, an anime TV series and three videogames. The second anime film, "Ghost in the Shell 2: Innocence," was released in the U.S. by DreamWorks in 2004.Avi Arad, Ari Arad and Steven Paul of Seaside Entertainment are attached to produce and brought the project to the studio. Jamie Moss has been tapped to pen the adaptation.Universal and Sony were also chasing "Ghost in the Shell," but Steven Spielberg took personal interest in the property and made it happen at DreamWorks." 'Ghost in the Shell' is one of my favorite stories," Spielberg said. "It's a genre that has arrived, and we enthusiastically welcome it to DreamWorks."DreamWorks prexy of production Adam Goodman said "Ghost in the Shell" is a property "that epitomizes 3-D live-action motion picture possibilities."


in http://www.bloody-disgusting.com

quarta-feira, abril 16, 2008

Pode Ser "A" Notícia Bomba do Ano

Esta poderá ser "A" notícia mais inquietante, para alguns, em termos cinematográficos. Decidimos citar directamente a fonte - twitchfilm.net - no seu texto original. Fãs hardcore Preparem os corações...
Please resist the urge to make everything neat and clean ... please resist the urge to make everything neat and clean ... please resist the urge to make everything neat and clean ...

Mack reported all the way back in January that Japanese anime house Production IG were actively seeking an American movie studio to develop a live action adaptation of Masamune Shirow’s classic story Ghost in the Shell with. To nobody’s surprise the interest was huge with a number of major studios in the fray and I just spotted a note over on Bloody Disgusting that the battle is over thanks to the personal intervention of the heaviest of Hollywood heavyweights. Word is that Steven Spielberg stepped in personally to ensure that the project ended up at Dreamworks where Avi Arad - the man behind the recent string of Marvel comic adaptations - will produce a Jamie Moss script. There’s no firm confirmation of who will direct but I can’t imagine that Spielberg took action on this himself just to hand it off to someone else.
How do I feel about this? Well, Speilberg obviously has the technical skills to pull it off. The man’s a monster when it comes to creating alternate worlds and putting the truly fantastic on screen. However he also has an ongoing tendency to clean up and sanitize just about everything he touches - his adaptation of Philip K Dick’s Minority Report being a prime example. This could be spectacular. It could be painful. It could be both. I’m excited and afraid all at the same time ...

O Bébé de Rosemary

Esta semana regressamos de novo aos clássicos de alguma forma perdidos ou esquecidos. O filme de Roman Polansky - Rosemary's Baby - é antes de mais uma referência absoluta para o cinema fantástico, sendo mesmo considerado uma das mais importantes obras do seu realizador. É um filme altamente perturbador sobre um casal nova-iorquino recém chegado a um novo apartamento e a uma nova vida. Mia Farrow representa admiravelmente a rapariga que vê o seu marido a passar cada vês mais tempo com o casal de idosos da porta ao lado. Estes revelar-se-ão diferentes do que poderíamos julgar levando Rosemary (Farrow) a um estado de neurose típico das personagens femininas de Polanski e que mostra ser a marca mais importante deste cineasta. Tal como em Repulsa de 1965, com uma então ainda jovem Catherine Deneuve, a vivência do desconhecido para Rosemary assume contornos de grande inquietação, que magistralmente se reflecte mesmo no espectador menos atento. È um filme de um simbolismo extremamente inteligente, em que somos obrigados ao constante exercicío da dúvida, de questionar se o que está a acontecer é real ou imaginário, fruto de uma possível descompensação da protagonista.Tal como em Chinatown, Polanski revela-se um perito em atordoar o espectador, deixando este de saber quem é quem, ou o quê é o quê. Existirá mesmo uma conspiração contra Rosemary? Apesar de podermos tirar uma conclusão rapidamente, ou mesmo duvidando até ao final, durante todo o filme os arrepios estão presentes. Poucos são os filmes em que o suspense se mantém por tanto tempo. Um elenco notável, onde se destaca a interpretação de Mia Farrow, como Rosemary.

O filme vence, pois apoia-se no principio de que tudo poderá ser delírio de Rosemary, de que tudo o que lhe está a acontecer poderá ser fruto de dificuldades de adaptação á grande cidade, e de um sentimento de isolamento que esta experiencía ao longo do filme. O filme resulta porque o espectador está constantemente a por em causa a personalidade da personagem, e a sua aparente patologia esquizo-paranóide (ok! já mandamos a nossa análise, pejada de palavras caras...parabéns a nós!)

sexta-feira, abril 11, 2008

Entre 1945 e 2001

Em 1945 os Estado Unidos da America bombardearam Hiroshima no Japão com uma bomba nuclear. As consequências da acção foram nefastas para o povo japonês, provocando uma série de mudanças sociais. E o pós guerra desencadeou o florescimento das mais variadas manifestações culturais, que serviam de metáforas e tentativas de reparar a ferida deixada pela bomba. Deste modo, o Manga, o cinema e a arte em geral surgiram como um escape, de forma a exorcisar os fantasmas do passado. Em 1954, aproximadamente dez anos mais tarde, o realizador Ishirô Honda levava á tela, aquela que é ainda hoje, uma das mais persistentes personificações do mal para o povo japonês - Gojira - ou Godzilla se quiserem. O monstro que invadia a cidade de Tokyo e espalhava a destruição era fruto da era nuclear e simbolizava a Bomba, o maior pesadelo do povo japonês, que por seu lado respondia e contra-atacava numa batalha desigual. O filme Cloverfield, porduzido por um dos criadores de Lost - J.J, Abrahams - tem outro significado depois do 11 de Setembro. Não que a história seja inovadora, nada disso, mas porque escolhe assumir uma postura documental, muito á luz das imagens que inundaram as nossa televisões em 2001. E é por isso que é eficaz no seu horror, da mesma forma que as imagens reais o foram. O filme em si não é brilhante, não é uma obra prima, mas é um produto da história do mundo, da mesma forma que Gojira em 1954 o foi, com o mesmo efeito que provavelmente o filme japonês provocou nos espectadores de então. É por isso também que Cloverfield não ambiciona ser um remake de Gojira, e não o é, apesar de ambos os países estarem a exorcisarem os seus fantasmas.
A História tem destas coisas, e por vezes repete-se no real e no imaginário, ou cinema!


terça-feira, abril 08, 2008

Os Estúdios Hammer

No final dos anos 50, o desgaste natural do cinema de Horror fez com que o género enfrentasse perdas significativas de audiência para a televisão. Nesse momento, a produtora inglesa de filmes fantásticos "Hammer", que entrou em actividade após a Segunda Guerra Mundial comandada por Michael Carreras e Anthony Hinds, surgiu com a ideia de revitalizar o género trazendo novamente às telas do cinema as famosas vacas sagradas "Drácula", "Criatura de Frankenstein", "Múmia", "Fantasma da Ópera", "Lobisomem", entre outros, os quais haviam sido largamente filmados a preto e branco nas décadas anteriores pelo saudoso estúdio americano "Universal", com Boris Karloff, Bela Lugosi e Lon Chaney Jr., entre outros.
O primeiro filme do género fantástico da Hammer foi The Quatermass Xperiment, baseado numa série de TV de 1953, com uma história que misturava elementos de ficção científica e horror e relatava o regresso de um astronauta que ao regressar de uma missão ao espaço é possuído por um extra terrestre e transforma-se num terrível monstro ameaçador para a humanidade. A partir daí, vieram dezenas de outros filmes que se imortalizaram dentro da história do género e que são filmes de culto até hoje, várias décadas depois, para uma legião imensa de fãs. A maior característica dos filmes da Hmmer era o ambiente. Com fascinantes cenários góticos, através de imponentes castelos, cercados por florestas fantasmagóricas, com cemitérios privados e as suas lápides de pedra e túmulos envoltos em névoa sinistra, sem contar com as pequenas aldeias de camponeses supersticiosos e constantemente assustados, os laboratórios cobertos de aparelhos eléctricos, líquidos borbulhantes e tubos de ensaio, as famílias atormentadas por alguma antiga maldição, e o tradicional modo de vida aristocrático das damas e cavalheiros da época.
O sucesso dos primeiros filmes do estúdio tem explicação em alguns factores importantes como a fotografia colorida, a utilização de uma mesma equipa de produção e elenco, e o uso inteligente dos recursos disponíveis diminuindo os custos de produção. O ápice de consagração da "Hammer" foi durante os nostálgicos anos 60, onde se concentraram a maioria dos seus melhores filmes, sendo que de uma forma inevitável as suas produções acabariam por sofrer desgasto com o passar dos anos, ao apresentar poucas novidades e um uso exagerado de fórmulas repetitivas. Facto que levou o publico a perder gradativamente o interesse nos filmes e que inevitavelmente levou ao encerramento do estúdio, o que também se deveu ao género do horror se encontrar em mudança com filmes como A Semente do Diabo e Massacre no Texas, em que a direcção era para uma corrente inspirada pelo naturalismo, cujo pontífice foi a Noite dos Mortos Vivos.
Ainda assim, os estúdio Hammer foram uma referência absoluta para o cinema fantástico.