sexta-feira, janeiro 02, 2009

Entre os fãs de Dario Argento é notório e reconhecido que ele gosta de interpretar as mãos dos serial killers nos seus filmes. Em vários deles, o cineasta coloca-se numa posicção voyorista entre o seu cinema e a relação que o espectador tem com este. Tenebre é o mais metalinguístico dos filmes de Argento e aquele onde esta problemática ganha mais relevo.
Foi o primeiro giallo que Argento viria a fazer desde que o seu Profondo Rosso tinha revitalizado o género em 1975. Pelo meio fez dois filmes, "pequeninos", que simplesmente são duas das suas obras primas, Suspiria e Inferno, que trabalhavam um horror sobrenatural. Este regresso às origens parece ter seguido desta necessidade de colocar-se a si mesmo e a sua filmografia em questão. O resultado é um dos melhores e mais intrigantes filmes do realizador, talvez o que melhor exprima a crença de Argento de que estilo e substância andam juntos. A história é sobre Peter Neal (Anthony Franciosa), um famoso escritor de livros policiais violentos, que viaja a Roma para divulgar seu último "best seller" Tenebrae. Enquanto ele ainda está no avião, um psicopata inicia uma série de assassinatos aparentemente inspirados no seu último livro. O detective responsável pelo caso, Germani (Giuliano Gemma, o único policia simpático dos filmes de Argento), pede ajuda ao escritor, que entre os seus compromissos promocionais começa a receber cartas e telefonemas do assassino.
Diferente de outros filmes de Argento, em Tenebre o personagem principal nunca assume o papel de investigador, uma tarefa que fica a cargo do coadjuvante Germani. Apesar de nitidamente afetado pelos crimes, o escritor tenta ficar à margem dos acontecimentos, seguindo com a série de entrevistas agendadas. Em Tenebre, ao contrário dos outros giallo, o who done it é realmente peça central nos interesses de Argento. O espectador é convidado para tentar resolver o quebra-cabeças apresentado em vez de apenas acompanhar o herói-investigador.
O enredo de Tenebrae é dos mais complexos na obra de Argento em termos de construção. E para o espectador não há uma cena final que o tranquilize . Este é o mais cru e pessimista dos trabalhos de Argento.
Mágnifico exercício de estilo, com um especial cuidado com a estética arquitetónica do filme.

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