quinta-feira, novembro 10, 2005

O NOVO CRONENBERG (palhacinho approved)

A History of Violence é a adaptação de uma comic book de sucesso de John Wagner e Vince Locke. O filme conta com uma duração de hora e meia - bem ao estilo do realizador - e leva-nos até a uma pequena vila no coração do estado do Indiana. É lá que encontramos Tom Stahl. O homem que parece o marido e o pai perfeitos, dono de um pequeno café local vai ser um dia colocado á prova, quando dois assaltantes decidem entrar no seu café, roubar e matar todas as testemunhas. Stahl vai reagir com uma frieza que ninguém conhecia, e com uma imensa habilidade, e o pacifista acabará por matar os assassinos, tornando-se no heroi da vila, que vê nele o exemplo de coragem e de moral a seguir. Daí até se tornar famoso é um saltinho, mas com a fama chega também o passado que Stahl sempre quis esconder, mesmo dos que mais amava. Um passado sombrio que poucos imaginavam ser possivel num homem daquele calibre. Um passado que pode destruir em segundos, o que ele levou uma vida a construir.
Para esta história Cronenberg apostou na direcção de actores. O realizador que já trabalhou com nomes como Christopher Walken, Jeremy Irons ou Ralph Fiennes, decidiu eleger como personagem principal Viggo Mortensen, que vai, aos poucos, tentando-se livrar da eterna imagem de Aragorn, o rei dos Homens na trilogia fantástica Lord of the Rings. E a escolha parece ter sido perfeita. Mortensen, um actor com provas dadas já antes do fenómeno tolkiano, gere as emoções na perfeição e a sua mestria é tal, que domina todas as cenas onde entra, do primeiro ao último instante. A critica não lhe poupou elogios e este pode ser mesmo o papel que o actor procurava para se afirmar definitivamente como um nome a respeitar.Feliz foi também a escolha para viver Edie, a mulher de Tom e talvez a personagem mais fascinante do filme pela forma como é confrontada com a realidade de estar casada com um homem que desconhece por completo. A dificil tarefa foi entregue a Maria Bello, actriz do sucesso popular Coyote Bar, mas, mais importante que isso, de The Cooler, o filme que consagrou William H. Macy como actor principal. Se a critica e o público gostaram de Mortensen, que dizer de Bello. A actriz transforma-se por completo de uma parte para a outra do filme, expõe-se sem qualquer pudor, sofre as cenas mais violentas do filme e enfrenta-os com uma coragem estarrecedora e ajuda a contrabalançar o poder masculino que vai pautando o filme, e que surge nos papeis secundários de Ed Harris e William Hurt, dois nomes grandes que têm uma importante palavra a dizer ao longo da narrativa.
Depois de ter brilhado no último Festival de Cannes, A History of Violence tem tudo para se tornar num dos filmes do ano. Um argumento espantoso e já sobejamente conhecido dos amantes de banda-desenhada. A mão genial de Cronenberg na camara e um elenco que se apresenta ao seu melhor nivel. É sempre dificil imaginar como as grandes instituições da indústria de Hollywood, ou mesmo muitos dos criticos, irão olhar para este filme. Se tudo indica que tanto Mortensen como Bello estão na lista dos melhores do ano, poderá sempre haver a habitual tentação de fazer passar a imagem de que falta algo para coroar definitivamente o autor canadiano. Mas, mesmo assim, A History of Violence - que estreia por cá a 17 de Novembro - dificilmente escapará as listas dos melhores do ano de muitos amantes de cinema, um pouco por todo o mundo.

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