segunda-feira, julho 27, 2009

Blood And Black Lace (1964)

Concebido inicialmente pelos co-financiadores da Alemanha Ocidental como um rotineiro thriller policial, Sei Donne per l'Assassino representa um tremendo avanço no desenvolvimento do moderno filme de horror.
Em Blood and Black Lace (1964), Bava retira o ênfase das personagens e suas motivações psicológicas, criando detse modo uma sinfonia operática de violência em que ninguém é o que parece. No paranóico ambiente do filme, não se deve confiar em ninguém. Homens de negócios aparentemente respeitáveis revelam-se assassinos sádicos; todos os outros ou são seguros-de-si e intocáveis (por exemplo, o inspetor) ou traiçoeiros e chantagistas. Mario Bava usa a camara de modo a que o público tome parte da acção, sem encorajar contudo a simpatia do espectador com as personagens; por estas razões, muitos críticos continuam ainda hoje ferverosos opositores de Blood and Black Lace, levando Bava a responder pela criação de uma celebração sem remorsos do sadismo.
Com bastante frequência, as personagens de Bava são marcadas por uma incapacidade de amar. Em nenhum outro filme este conceito é mais aparente. Ainda que a maioria das personagens principais estejam envolvidas em relacionamentos, elas são demasiado embutidas afectivamente para que possam sentir realmente alguma coisa uns pelos outros.
Executado com uma perspicácia mórbida e repleto dos deslumbrantes toques estilísticos que tiveram tão profunda influência em Dario Argento e Martin Scorsese, Blood and Black Lace representa uma etapa lógica na maturidade crescente de Bava como cineasta. Os recursos um tanto esgotados dos géneros do gótico e do peplum deixaram o realizador ansioso por tentar algo novo. Embora um outro seu filme The Girl Who Knew too Much tenha permitido que Bava deixasse pra trás as armadilhas artificiais do filme de época, este ainda sofre de certa falta de maturidade - pode ser o primeiro giallo, mas é um giallo incerto. Em Black Sabath, o realizador deu um passo no sentido correto com o segmento "Il telefono" (seu segundo thriller com ambientação contemporânea), mas é com Blood and Black Lace que surge o género Giallo. É um filme de tal crueldade sem remorsos e cinismo amargo que agitou o género nos seus próprios fundamentos. Visualmente Blood and Black Lace é um dos filmes mais bonitos de Mario Bava: não há um único plano que não seja digno de exposição numa qualquer galeria de arte. A direção de arte de Bava fornece enorme impacto ao espectador . E mesmo a idéia de ambientar um violento thriller nos confins de uma casa de alta costura é um conceito deliciosamente irónico, estabelecendo imediatamente um conflito inquietante entre a acção e o ambiente.
Mesmo se os filmes que veio a inspirar (incluindo Haloween de John Carpenter, 1978, e Cabo do Medo de Martin Scorsese, 1991) não citem directamente Blood and Black Lace, o filme permanesce uma obra de poder e substância, e um clássico em seu próprio direito.

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