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quinta-feira, novembro 11, 2010

The American (2010)

Num ano em que as grandes surpresas cinematográficas têm sido difinitivamente guardadas para o fim, eis que nos chega um pequeno "G"rande filme chamado The American.
Desde John Ford, o anti-herói do cinema americano consiste num protagonista parco em palavras, sombrio, misterioso e que, embora pareça agir com boas intenções, é sempre de moral duvidosa, uma vez que esse anti-heroi é simultâneamente um matador. O veneradíssimo cineasta italiano Sérgio Leone é citado em The American, isto porque foi talvez ele o criador da concepção mais mítica do anti-herói através da personagem do "homem sem nome", interpretado pelo impassível Clint Eastwood.
Em The American, o assassino solitário interpretado pelo genial "George-vai ser nomeado ao Oscar-Clooney" também não tem nome e identidade definida, por vezes é chamado de Jack, ou também Edward. Diz-se movido por boas causas, mas sabe que Deus não se importa com ele. Se o anti-herói tradicional se mantém na zona cinzenta entre o bem e o mal, logo na abertura do filme na sequência pré-genérico, Jack/Clooney choca-nos com o seu lado maligno e perverso. Após o prólogo, o arrependimento acompanhará o personagem durante toda a sua nova missão. Estamos perante um thriller soberbo, a fazer lembrar alguns grandes filmes de Jean Pierre Melville (Le Cercle Rouge), mas também nos é contada uma história de redenção e de uma culpa, que contamina Jack/Edward como se de um vírus se tratasse. Nesta perspectiva pesa a importância de personagens do filme, como um padre e uma prostituta, através das quais Jack/Edward tentará lidar com os seus sentimentos.
O realizador Anton Corbijn, responsável pelo inferior Control (2007), prima por uma composição económica e precisa, com um ritmo que toma o seu tempo sem grandes pressas e aproveitando a luz natural da paisagem bucólica da região montanhosa italiana de Abruzzo. Corbijn minimiza os diálogos e busca o mais no menos de cada personagem. As perseguições e tiroteios estão longe de um inspirado John Woo, reduzindo-se à essência de cada cena e qual a importância da acção para servir a história.
Homenagem sentida a Sergio Leone, suspense digno de John Frankenheimer, fotografia pastel e soturna à Michelangelo Antonioni e uma atmosfera sofisticada e cool à altura de Jean-Pierre Melville, The American é a par com Social Network, um dos grandes filmes do ano, nós diriamos mesmo que lhe é superior e será sem dúvida alguma um dos grandes filmes de culto da década. E sim! Clooney é assombroso no filme.

quarta-feira, agosto 25, 2010

The Nanny (1965)

Esta semana continuamos á descoberta dos filmes da Hammer Studios, contidos na Ultimate Collectors Box Edition e diga-se de passagem que dos dois já visionados, nenhum caiu em saco roto. Tivemos o assombroso The Devil Rides Out e a grandiosa surpresa chamada The Nanny.
The Nanny (1965) é uma adaptação do livro escrito por Marryam Modell e foi realizado por Seth Holt. Este foi o primeiro de dois filmes que a fabulosa Bette Davis viria a fazer com a lendário estúdio inglês Hammer, mais conhecido por clássicos de série B. O segundo filme de Bette Davis com o estúdio foi The Anniversary (1968).
Mesmo tendo sido lançado após o sucesso de Hush... Hush... Sweet Charlotte (1964), Bette Davis já estava numa fase de declínio onde os papéis que lhe eram atríbuidos já não eram tão bons e as suas participações, segundo dizem, eram aceites pelo número de cenas em que aparecia e não pela importância da personagem interpretada. Mas mesmo assim, o profissionalismo e a técnica da actriz eram irrepreensíveis e mais que suficientes para elevar a qualidade de qualquer produção desse mesmo período. The Nanny (1965) tinha tudo para ser um filme tipico de série B, mas a representação de Bette Davis, principalmente quando junto com William Dix, transformam as cenas num drama psicológico de uma tensão assoladora.
A história conta que depois de passar dois anos num colégio interno/reformatório devido a um acidente em que supostamente afogou a sua irmã menor na banheira, Joey de 10 anos (William Dix), volta para casa e o que os seus pais, Virginia e Bill querem é o regresso á normalidade no seio familiar. No entanto, pouco tempo depois, suspeitas ressurgem novamente em volta do pequeno Joey, quando a sua mãe é envenenada, mas Joey insiste que teria sido a Ama (Bette Davis) a responsável, uma senhora amável que trabalhara há anos para a família e que teria sido também a Ama da mãe dos menores.
Sem ninguém que acredite nele, Joey vê a sua Ama como outra pessoa, como alguém que ele também acredita ser a responsável pela morte da sua irmã.
A gestão da tensão, imbutida pelo brilhante argumento, é algo de fabuloso e anos de luz á frente do que era feito até então dentro do género e atrevemo-nos mesmo a dizer que mesmo vendo hoje o filme pela primeira vez, 45 anos depois, este continua a ser algo de absolutamente supreendente. Nunca sabemos até ao final se estamos perante ideações paranóides ou ideias persecutórias por parte da criança, ou se na realidade a Ama é o mal personificado.
Enormissimo aplauso em pé para Bette Davis, para um jovem actor de nome William Dix e para o realizador Seth Holt. Imperdível

quarta-feira, agosto 18, 2010

The Devil Rides Out (1968)

The Devil Rides Out, também conhecido como The Devil's Bride, foi um dos grandes sucessos dos estúdios Hammer, baseado no best seller de Dennis Wheatley de 1934. O argumento do filme, dirigido pelo mestre Terence Fisher, é uma adaptação bastante fiél ao livro, com as filmagens a terem o seu inicio nos estúdios a 7 de Agosto de 1967. A rodagem do filme durou cerca de um mês e chegou aos EUA com o título "The Devil's Bride" a 18 de dezembro de 1968.
Terence Fisher conseguiu com este seu filme uma fotografia extremamente apurada, uma excelente direcção de arte, uma atenção ao detalhe bastante acima da média do que era então produzido e sobretudo a grande mais valia é sem dúvida o grande Christopher Lee, inclusivé o filme foi feito porque Lee foi o grande impulsionador da idéia de passar para a tela a obra de Dennis Wheatley.
Ainda nos dias de hoje, sempre que Christopher Lee fala sobre o seu periodo na Hammer, considera este filme o seu favorito e declarou por diversas vezes de que gostaria de ver um remake da produção com ele mesmo no papel de um Duc de Richleau (personagem interpretada por Lee no filme), mas mais maduro.

terça-feira, agosto 17, 2010

The Hammer Collection Boxset (1960-1970)

Os estudios Hammer nasceram em 1948 e foram fundados por Will Hammer e Sir John Carreras, dentro da lógica de que os filmes de terror fantástico deveriam ser de entretenimento, contando uma boa história. Esta lógica seria defendida por Carreras e quase que referendada por Hammer. Apesar dos orçamentos baixos, o estúdio lançou filmes dentro dos típicos padrões de Hollywood dos anos 50, mas assumindo uma tradição que vinha do teatro inglês e francês, principalmente com base no Théâtre Grand Guignol, de Paris.
No entanto, viria a ser a televisão quem, indirectamente, faria com que os Hammer Studios tivesse os seus primeiro sucessos. A televisão britanica produziu na década de 50 uma série de ficção-científica chamado The Quatermass Experiment, baseada no personagem Bernard Quatermass, ciêntista que enviara um foguete para o espaço e quando este regressou, trouxe uma forma de vida alienígena que tomou conta do corpo do astronauta enviado para comandar a missão. A Hammer fez um versão cinematográfica da série, The Quatermass Xperiment, em 1955, logo seguido de sequelas: X the Unknown, de 1956; Quatermass II, de 1957. O sucesso destes filmes e dos monstros alienígenas que eles apresentavam estimulou o estúdio a investir no cinema fantástico/horror/sci fi. Um dos acontecimentos que jogaria a favor da explosão da Hammer foi o facto da Universal Pictures estar a abrandar a sua produção de filmes de terror, dando a oportunidade á Hammer em fazer um acordo com o estúdio norte-americano conseguindo os direitos de Frankenstein e Drácula. Para grande surpresa surpresa dos mundo do cinema e da própria Hammer, o filme The Course of Frankenstein (dirigido por Terence Fisher, com guião de Jimmy Sangster e com participações de dois actores até então desconhecidos Peter Cushing e Christopher Lee) tornou-se um inusitado sucesso de bilheterias. Filmado em Technicolor, o filme mostrou o personagem de Mary Shelley como nunca tinha sido visto até então: com cores e bastante violência. Os Est+udios Hammer utilizavam praticamente sempre a mesma equipa técnica e de actores, filmavam vários filmes em simultaneo e de uma destas produções (junto com a Universal, que, além de financiar metade do filme, fazia a distribuição internacional) nasce o filme Horror of Dracula, fazendo um sucesso ainda maior do que seu antecessor e imortalizou Christopher Lee como o segundo grande Drácula do cinema (o primeiro tinha sido o eterno Bela Lugosi). A partir destes dois filmes, a Hammer nunca mais parou de produzir e fazer sucesso. Com histórias simples, aproveitando-se da imagem popular dos personagens de terror, usando habilmente as cores e o sexo (as mulheres eram escolhidas pela sua beleza, sensualidade e seios grandes, sendo que quase sempre eram vestidas com roupas de decotes bastante generosos). Christopher Lee faria várias vezes o personagem Drácula e Peter Cushing seria conhecido como o seu eterno nemesis - Van Helsing.
A Hammer Collection Boxset é uma edição em DVD absolutamente fabulosa. Contém cerca de 21 DVD, nos quais estão armazenados os 21 clássicos dos estúdios Hammer, com uma mão cheia de extras (documentários/trailers/comentários aúdio), fazendo-se menção honrosa ao filme The Nanny, disponível pela primeira vez em formato digital. A box contém: 'Blood From The Mummies Tomb', 'Demons Of The Mind', 'The Devil Rides Out', 'Viking Queen', 'Dracula, Prince Of Darkness', 'Fear In The Night', 'Frankenstein Created Women', 'The Horror Of Frankenstein', 'The Nanny', 'One Million Years BC', 'The Plague Of The Zombies', 'Prehistoric Women', 'Quartermass And The Pit', 'Rasputin The Mad Monk', 'The Reptile', 'The Scars Of Dracula', 'SHE', 'To The Devil A Daughter', 'The Vengeance Of SHE', 'Straight On Till Morning' and 'The Witches'. Absolutamente imperdível.
A primeira crítica de uma série que iremos fazer, será do filme The Devil Rides Out (1968), também conhecido por The Devil's Bride.

quinta-feira, agosto 12, 2010

Christine (1983)

Nasceu em Detroit - esta é talvez a melhor forma de descrever o ínicio de um dos grandes filmes de John Carpenter, adaptado de uma obra de Stephen King. Forjado numa linha de montagem de automóveis. Mas não é um carro qualquer. No interior do seu chassi esconde-se o próprio diabo. Christine - um Playmouth Fury de 1958 -, vermelho e branco, tem um insaciável desejo de vingança, capaz de gelar o sangue a qualquer um e de destruir todo aquele que se mete no seu caminho. Seduz Arnie Cunningham (Keith Gordon ), um rapaz de 17 anos, apaixonado por aquelas linhas estilizadas e curvilíneas, como se de uma mulher se tratasse. O automóvel exige uma devoção absoluta e incondicional, e se alguém tentar intervir, a morte é certa.
O cinema a partir de meados da década de 70 começou a ser invadido com filmes que visavam um filão recém-descoberto que renderia muito dinheiro às produtoras: o público adolescente. Histórias sempre de jovens banais, com problemas "banais" em situações completamente "banais" era o que se tinha de sobra. Esse padrão era quase constante, com pouquíssimas exceções de filmes adolescentes que mantinham um certo rigor tanto no argumento, como na direção.
Christine tem a direção do grande John Carpenter que mais uma vez brilha, ditando um ritmo claustrofóbico e proporcionando uma mão cheia de enquadramentos genias (ah! aquele widescreen fabuloso)
Para muitas pessoas na faixa dos trinta anos este é mais um filme de referência, simbolizando a sua própria adolescência e uma geração, mas este é também uma das poucas adaptações da obra de S. King (contam-se pelos dedos de uma mão) que realmente funciona de forma soberba.
É um filme para recordar e para descobrir sem restrições algumas.

terça-feira, julho 27, 2010

Galaxy Of Terror (1981)

Se é para escrever de cinema Sci-Fi trash de "boa qualidade" não vamos mais longe, porque estamos a falar de Galaxy of Terror produzido pelo grande Roger Corman.Galaxy of Terror (1981) é uma produção de Roger Corman que tentou na época apanhar o comboio do filme Alien (1979), de Ridley Scott. Também há referências a diversos outros filmes do género ao longo dos seus oitenta-divertidos gorentos- minutos, com bons momentos de gore do melhor que os Z-Movies nos podem dar. A película foi dirigida por D. B. Clark, senhor que hoje faz parte da equipa de produção de um senhor chamado James Cameron (Avatar).
A História é passada num futuro distante, nas profundezas insólitas do espaço sideral, em que a nave espacial Quest parte em missão de resgate de sobreviventes de uma outra nave, a Remus (epa! isto soa-nos a...Alien), que ficara encalhada no sinistro planeta Morganthus, mas eis que qual não é o azar dos nossos protagonistas quando dão de caras com uma orde de alienígenas áv
idos de sangue do pior, que por sua vez habitam uma espécie de pirâmide gigante no meio do planeta (muito bom!). Os nossos protagonistas, num acesso de parvoice e estúpidez (até parece que não vêm filmes!), decidem ficar e investigar o planeta e seus "alegres" habitantes. Roger Corman presenteia-nos com outra mistura bizarra entre ficção científica e terror, que ficou também conhecida como Mindwarp: an Infinity of Terror ou Planet of Horrors (brutal!). Esta modesta fita apresenta alguns dos cenários campy mais bizarros já vistos, com uma profusão de cores de fazer provocar convolsões em qualquer epilético e misturando-se com uma fotografia meio obscura, provocando um contraste por vezes bastante...bizarro!O inicio do filme tenta criar uma atmosfera meio mística que acaba por perder toda a importância no decorrer da história, com a "gorisse" a entrar sempre a abrir, sem dó nem piedade. A estética campy do filme faz-nos lembrar vagamente O Planeta dos Vampiros (1965), fantástica película de Mario Bava, com referências a outro clássico absoluto dos anos 50: Planeta Proibido (1956), de Fred M. Wilcox. O elenco é uma sucessão de rostos desconhecidos, exceto um: Robert Englund, que alguns anos mais tarde ficaria famoso ao encarnar Freddy Krueger.
Para ajudar á festa a Shout! Factory lançou uma edição em Blue-Ray do filme pejadíssima de extras, como se tivessemos perante o Senhor dos Aneís, vá-se lá saber porquê.
Extras:
• Commentary track with actress Taaffe O'Connell, Make-up artists Allan Apone, Alec Gillis and production assistant David DeCoteau
• Tales From the Lumber Yard: The Making of Galaxy of Terror (1:02:54 in HD!)• New Worlds: Producer Roger Corman, screenwriter Marc Siegler and director Bruce D. Clark discuss the origins of the film
• The Crew Of The Quest: Actors Robert Englund, Sid Haig, Taaffe O Connell and Grace Zabriskie discuss their experiences as crew members of the Quest
• Planet Of Horrors: A detailed look into the creation of the memorable sets of the film and alien landscapes • Future King: Memories of co-production designer (and future visionary filmmaker) James Cameron from members of the cast and crew
• Old School: A journey into the complicated mechanical and makeup effects with artists Allan A. Apone, Douglas J. White, Alec Gillis and others
• Launch Sequence: Co-editor R.J. Kizer walks us through postproduction and a profile on composer Barry Schrader
• Theatrical Trailers
• Extensive Photo Galleries Including Posters, Production Sketches And Designs
• Theatrical Trailer With Commentary From Writer/Director Joel Olsen, Courtesy Of Trailersfromhell.com
• Script in PDF format
• Notes inside case from Jovanka Vuckovic
este texto cagou no acordo ortográfico

segunda-feira, julho 26, 2010

In The Mood For Love (2000)

Na ausência de um novo grande filme de Wong Kar-Wai? Escrevemos acerca do irrepreensível e perfeito In The Mood For Love (2000).
O realizador Wong Kar-Wai estabeleceu-se como um cineasta autor. Através da cor e da luminosidade constrói toda uma narrativa baseada nos simbolismos que daí advêm criando o seu próprio estilo. Cada cena é meticulosamente ensaiada e posteriormente filmada de forma a obter exactamente aquilo que visualmente pretende. É um daqueles cineastas perfeccionistas que assumem o cinema como forma de arte, mas que paradoxalmente dá aos actores uma grande margem de manobra ao improviso.
Baseado nesta premissa, poderia ser apenas mais um filme romântico. No entanto, as interpretações, as situações vividas e os pequenos detalhes desenrolam a narrativa duma forma única e visualmente cativante. Wong Kar-Wai cria um mundo visual onde cada frame corresponde a uma fotografia de uma beleza rara. É um filme que vive sobretudo da insinuação em detrimento da concretização. Há um enorme amor entre os personagens principais, Lin e Chow, fortíssimo mesmo, mas em última análise impossível de concretizar.

As performances dos dois actores são sublimes, sendo capazes de transmitir uma sensualidade e desejo quase cerebrais, fruto de uma relação platónica, baseada na sugestão. Apesar dos protagonistas falarem muito pouco em cada cena, conseguem transmitir ao espectador a crescente paixão e emoção entre eles, cada vez que aparecem juntos no écrân.
A estética do filme é desenvolvida através do uso extremo da luz e cor, tendo, portanto, a música um papel preponderante, na criação do ambiente. Com poucos diálogos e uma montagem quase marginal, Wong Kar-Wai repete alguns temas musicais, em determinadas cenas, para enfatizar o estado emocional dos protagonistas e suportar a bela fotografia.
Realizado a partir de um argumento quase inexistente e privilegiando a improvisação, “In the mood for love” é considerado por muitos como a obra-prima do realizador de Hong-Kong. Poderá, no entanto, ser um filme de difícil visualização, uma vez que é único na abordagem artística que faz ao género romance, tantas vezes destruído pelos clichés lamechas dos homónimos americanos do género. Para ser visto com disposição e atenção.

quinta-feira, maio 13, 2010

Higher Learning (1995)

John Singleton foi o nome a reter no inicio dos anos 90, com um pequeno grande filme chamado Boyz in the Hood, o qual foi nomeado para o Oscar de melhor realizador em 1991. O realizador renovou e ressuscitou o cinema negro, que até á data se circunscrevia a dois géneros: o blackxploitation nos anos 70 e as comédias no final dos anos 80 com Eddie Murphy's e outros tantos. Com Boyz in the Hood, Singleton apresenta uma abordagem aos problemas sociais dos afro-americanos da classe média-baixa, fazendo um retrato bastante realista do que era viver nos subúrbios de L.A., contanto a história de um pai que tenta dar a melhor educação ao filho no meio de um bairro problemático controlado por gangs.
Cerca de quatro anos depois, com um par de filmes desinspirados pelo meio, Singleton volta á carga, desta feita com Higher Learning; a acção passa-se na Universidade de Columbus em Nova Iorque, e narra o dia-a-dia de três protagonistas, três caloiros: Malik Williams (um atleta negro, que quer fazer o que acha ser correcto para se afirmar como cidadão num país que considera racista), Kristen Connor (a típica girl next door provinda do interior americano) e Remy (com dificuldades em se relacionar com os outros e que acaba por se envolver com um grupo neo-nazi). Singleton adopta aqui uma postura biográfica, procurou retratar a sua época universitária (em UCLA), os conflictos raciais entre os alunos, a dificuldade de se relacionar com os outros, etc. E conduz um enredo com mestria, deixando tudo acontecer a seu tempo.
Não estamos perante um filme panfletário, como muitos afirmam, mas sim um retrato da juventude americana, como um todo, sem puxar para o lado dos negros ou dos brancos, dos heterossexuais ou dos homossexuais, das mulheres ou dos homens. Mostra a ignorância de ambos os lados dessa suposta “guerra racial e ideológica” e demonstrando que ambas as partes parecem não saber contra o que lutam.
Não estamos perante uma obra prima, nessa perspectiva Boyz in the Hood conseguiu ir muito mais longe, mas estamos sim perante um filme feito de forma extremamente competente, com algumas boas interpretações, uma história bem contada e com um naipe de actores que mais tarde (hoje!) são sobejamente conhecidos e que estariam em inicio de carreira em Higher Learning. Recomenda-se.

segunda-feira, maio 03, 2010

The Stuntman (1980)

Cameron é um fugitivo da polícia, que acidentalmente causa a morte de um duplo de cinema durante as rodagens de um filme. Eli Cross (magistralmente interpretado por Peter O'Toole) é o realizador do filme que ao se aperceber que Cameron anda fugido á justiça, diz ás autoridades que este faz parte da equipa de filmagens. Em troca exige que este trabalhe como o duplo que morreu em cenas cada vez mais arriscadas, fazendo-o pensar na possibilidade de poder morrer durante as filmagens a fazer algo completamente impossível.
Existem múltiplas leituras e formas de se apreciar este filme. Como um filme sobre os bastidores do cinema, inclui-se na categoria do filme dentro do filme. Como um filme de arte é uma obra que, justamente, mereceu três nomeações aos Óscares, inclusive de Peter O'Toole como melhor actor (perdeu para Robert de Niro, em "O Touro Enraivecido") e a Richard Rush como melhor realizador.Mas é como filme fábula, de autor, artisticamente irrepreensível, quase surrealista em alguns momentos, com nítidos e claros elementos em comum com o clássico de Fellini - Oito e Meio (1963), que The Stuntman é referenciado pela critica como um dos filmes mais fascinantes e simplesmente perfeito da sua década.
The Stuntman prova que mesmo nos Estados Unidos, filmes que ousam utilizar uma linguagem menos convencional e se propõem a tocar o dedo em certas feridas e temas perigosos acabam por ser penalizados, como foi o seu caso, realizado em 1979, por um produtor independente - Melvim Simon, permaneceu meses nas prateleiras, sem obter um lançamento digno da sua importância. O seu realizador, Richard Rush, chegou a sofrer um enfarte de tanta preocupação com o filme e o próprio actor Peter O'Toole teve que utilizar a sua fama e prestígio para quebrar a barreira de silêncio que se impôs a respeito desta obra. Finalmente lançado nas salas, "The Stunt Man" obteve um grande acolhimento da crítica e concorreu aos Óscares de 1981, com 3 nomeações.
A obra de Richard Rush é sem dúvida um de poucos filmes a abordar a temática da "paranóia" de forma exemplar (atrevemo-nos mesmo a dizer "de forma perfeita"), a par com outros poucos tais como: Repulsa (Roman Polanski) e O Jogo (David Fincher).
The Stuntman tem uma atmosfera onírica extremamente bem conseguida, um sentido de ritmo assustadoramente apurado, um argumento brilhantemente bem escrito, um excelente naipe de actores, uma banda sonora "brutal" e aqui chamamos a vossa atenção para o fabuloso genérico inicial do filme, com o tema principal da banda sonora, que muito dificilmente poderão dizer que desconhecem.
Caros leitores, se o objectivo é ver cinema com "C" grande do final da década de 70, as escolhas são efectivamente poucas e The Stuntman está no topo da lista.

sexta-feira, abril 16, 2010

Nordwand (2010)


Philipp Stölzl é a next big thing do cinema alemão. Directamente da nova geração de realizadores de video-clips e publicidade, responsável pelos videos "Du Hast" e "Du Riechst So Gut 98" dos Rammstein, Stölzl foi o responsável pela "bomba" chamada Nordwand (North Face). Vamos escrever outra vez em caps lock - Nordwand=BOMBA.

Assim que recuperarmos vamos escrever sobre esta coisa.

quinta-feira, abril 15, 2010

Robogeisha (2010)

Que escrever acerca de Noboru Iguchi? Que escrever acerca do seu útimo filme - Robogeisha? Confessamos que estavamos bastante contentinhos com a possibilidade de voltar a escrever sobre cinema trash, mas depois de visionarmos este tão ansiado Robogeisha, que teve direito a um trailer fabuloso que por si só já é um acontecimento, confessamos que ficamos com um gosto amargo de boca. Não é que o filme, dentro do género seja mau de todo, pois até é suficientemente estúpido, absurdo e over the top para ser um verdadeiro cine trash; mas a realidade é que fica aquém das expectativas. Assim, onde o filme anteriour de Noboru Iguchi - Machinegirl - reinava de forma soberbamente inventiva, com uma série de momentos gore inacreditáveis e um plot ao estilo do melhor revenge movie xunga, este Robogeisha peca por um argumento bastante mais pobre (se é que isso é possível), tem de facto um par de sequências bem boladas, inventivas e divertidas, de onde se ressalva o ataque do edíficio assassino e destruir uma cidade, onde os prédios se esvaiem em sangue (sim leram bem! esvaiem-se em sangue literalmente).
O que fica é sem dúvida uma permissa parva e digna do melhor cine xunga - uma geisha robot com muitos gadgets a la Inspecteur Gadget que servem um único propósito: para chacinar tudo o que lhe aparece á frente. O resto é demasiado redutor e insipido para termos "um grande mau filme", não chegando este a ser tão mau que até é bom.
Pois bem, para quem procura "bom" cinema trash este não será o filme a ver, deixamo-vos antes o conselho do demo para darem uma vista de olhos a Machinegirl (bem melhor...ou talvez não...ou seja, se souberem ao que vão ficarão satisfeitos).

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Bronx Tale (1993)

Bronx Tale é a primeira aventura na cadeira do realizador para Robert De Niro, que infelizmente passou algo despercebido do público, aquando da sua estreia, tendo ido directamente para o circuíto de aluger.
A história situa-se á volta de Calogero Anello, uma criança italiana que vive no Bronx com a sua família. Ele vive com os seus pais, sendo o pai interpretado por DeNiro que é um motorista de autocarro honesto, que nunca se meteu em maus caminhos. No entanto, o ídolo de Calogero é Sonny (Chazz Palminteri, também autor da história e da peça de teatro homónima), o mafioso lá do bairro. O pequeno protagonista sonha em ser Sonny quando crescer. Num dia, sentado na escada da sua casa, a criança presencia o assassinato de um homem que lutava por um lugar de estacionamento. O assassino foi Sonny. Pouco depois, a polícia chega ao local e pede para Calogero dizer quem foi o culpado. Ele delata ninguém, e Sonny acaba criando um laço de amizade forte com o rapaz.
Ao som de uma banda sonora pautada pelas mais belas músicas dos anos 60 e pelo funk dos anos 70, Bronx Tale vai beber a sua inspiração a um outro que Robert DeNiro acabara de fazer 3 anos antes - Goodfellas. Bronx tale é bastante mais suavizado, sem recorrer á violência operática de Scorcese. O filme de DeNiro é antes de mais uma obra que se centra na dinâmica da relação pai e filho, aborda de forma inteligente os aspectos da adolescência, dos seus perigos e sobretudo do que é crescer num bairro problemático.
Esta é daquelas obras que fica no nosso coração depois de a vermos, toncando-nos profundamante, sem deixar de ser divertida, inteligente e sem nunca cair no risco eminente da lamechisse que espreita a toda a esquina. Estamos perante um clássico, realizado por um grande actor, que revela um então promissor realizador, mas que infelizmente se tem abstido de continuar a desempenhar esse papel.

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Taking Woodstock (2009)

Se houve filme este ano que nos tocou profundamente no coração, ele foi o filme de Ang Lee - Taking Woodstock. E caros leitores que filme! Para não haver dúvidas, este é para nós sem dúvida absolutamente nenhuma um dos filmes do ano e que curiosamente não passou pela lista de nomeados para os Oscares 2009. É efectivamente mais uma injustiça, se pensarmos que no rol dos nomeados se encontra filmes como District 9, que é um excelente filme, mas sejamos realistas não merece tanto.
Com Taking Woodstock, Ang Lee (Brokeback Mountain, O Tigre e o Dragão, Tempestade de Gelo e Ride With The Devil) prova mais uma vez que é "O" cineasta que melhor nos consegue contar episódios da história dos EUA, mesmo não sendo de nacionalidade americana. Este é um dos factos que é mais fascinante na obra de Lee, que em filmes como Ride With The Devil nos conta um pedaço da história da guerra civil norte americana de forma soberba, assim como em A Tempestade de Gelo nos traça um quadro exímio da revolução sexual dos anos 70 nos EUA. Ang Lee é sem dúvida um dos maiores contadores da História anglo saxónica, sem curiosamente ser um americano de gema. E porque é que o consegue? Pela simples razão de estarmos perante um autor de sensiblidade genuína e apurada, que goza de um distânciamento crítico face ao país, o que lhe permite narrar autênticos contos de forma subtil como só um asiático o poderia conseguir.
Taking Woodstock é antes de mais uma fábula sobre o episódio que antecedeu ao concerto mítico de Woodstock, é uma espécie de falso documentário contado de forma leve, divertida e retirando representações enebriantes por parte do naipe de actores. E aqui fazemos um parentises para falar de uma senhora chamada Imelda Staunton, agora a braços com o novo Harry Potter, e que desempanha um papel simplesmente genial digno de nomeação para melhor actriz secundária.
Pensamos contudo que o filme de Ang Lee não foi este ano "bafejado" pela sorte do Oscar, por já ter sido presenteado á relativamente pouco tempo com os prémios atríbuidos a Brokeback Mountain.
É fantástico ver um realizador a vencer a máquina de Hoollywood, mesmo tendo sido apanhado com um menos conseguido Hulk, e a fazer os filmes que obviamente quer, juntamente com o seu amigo de longa data, produtor de todos os seus filmes e argumentista James Schamus, autor deste argumento absolutamente "brutal". Se há filme do ano para o palhacinho, este estaria no topo da lista. Imperdível.

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Vengeance (2009)

Mais do que qualquer outro dos seus filmes recentes Vengeance representa tudo o que é o cinema de Johnnie To. E o que é ele? É simplesmente o cineasta mais importante do cinema contemporâneo de Hong Kong. O filme não tem a leveza do fantástico Sparrow, nem o olhar apurado de Election 1 e 2, mas tem a energia cinética de Exiled e o experimentalismo de Mad Detective. Em Vengeance há um pouco de todas as imagens de marca do realizador, assumindo-se como um best of catártico dos seus temas predilectos, uma mais que evidente homenagem a Jean Pierre Melville com muitas evocações de Le Cercle Rouge.
A dedicação autoral de To presenteia-nos com uma história que só poderia sair da sua mente - um homem com uma bala na cabeça aos poucos perde a memória, com a missão de se vingar daqueles que mataram a sua família, mas como poderá ele concluir o seu porjecto existencial se a qualquer momento poderá não se recordar da missão que tem pela frente? Podemos dizer que tudo em Vengeance é icónico, a começar pelo uso do cantor francês Johnny Holyday no papel principal, o heroic bloodshed, o peso da palavra empenhada, a engenhosidade das cenas de acção, onde temos "A" cena do ano que é um tiroteiro ao luar (imperdível). Vengeance é sobretudo um filme sobre filmes, uma prodigiosa auto-citação, um elegante plágio do cinema do próprio Johnny To. E quando é que sabemos que um realizador de cinema é soberbo? Quando este tem o descaramento de se auto plagiar e safar-se prodigiosamente com isso. Para nós o filme de To encontra-se na lista do que melhor se fez em 2009. Palmas para o mágico!

segunda-feira, dezembro 28, 2009

The Box (2009)

Vamos por partes caros leitores: 1º The Box é o regresso de Richard Kelly, realizador do magistral Donnie Darko (já sentimos as orelhas a arder) e do desastre que foi The Southland Tales; 2º The Box é uma aproximação a um cinema mais comercial; 3º The Box é um filme de culto imediato e é um dos grandes filmes de ficção científica/fantástico/thriller do ano (e pronto lá estão as orelhas a arder). Pelo que já perceberam este é daqueles filmes que ou se ama ou se odeia profundamente, como todos os filmes de Richard Kelly; e isto porque Kelly é antes de mais um autor e como todos os autores - faz cinema de autor - e isso irrita muito boa gente. As marcas de autor do cinema de Kelly são bem patentes, por um lado há um complexo cruzamento de géneros cinematográficos; por outro lado, cada vez que vemos um filme de Kelly ficamos com a sensação de que são levantadas questões e mais questões, sendo o espectador convidado a participar no jogo de decifrar enésimos enigmas que vão pautando os seus argumentos; e por fim temos um realizador com uma capacidade impar de fazer "filmes estranhos" (não existe mesmo outra forma de o descrever).
O trunfo de The Box está no seu engenhoso argumento, está no facto de ser uma adaptação de um episódio da Twilight Zone e de se basear na Experiência de Milgram, que foi uma das mais famosas experiencias na área da psicologia, conduzida pelo Professor Stanley Milgram da universidade de Yale. The Box é um grande regresso para Richard Kelly que consegue criar um autêntico efeito "matrioska", fazendo com que o espectador esteja constantemente á procura da solução do problema, quando esta poderá não existir, ou pelo menos da forma como pensamos. Confusos? Então vejam o filme sem restrições e se não gostarem paciência, porque ficou tudo maluco com isto aqui no palhacinho.

segunda-feira, novembro 30, 2009

Moon (2009)

Algures situado entre "2001: Odisseia no Espaço" e "Solaris", o filme Moon do realizador britânico Duncan Jones (filho de David Bowie) é um pequeno grande filme. Pequeno no orçamento e no elenco, grande no argumento, na banda sonora, na direcção de artística e na capacidade de representação de um surpreendente Sam Rockwell, neste momento ás voltas com Iron Man 2.
Depois de "À Boleia pela Galáxia" e "Choke", o actor de "Confessions of a Dangerous Mind" volta aos papéis bizarros, desta feita para interpretar Sam Bell, astronauta solitário em missão na Lua, que a uma semana de regressar a casa encontra, num módulo da estação lunar em que vive, nada menos que um sósia perfeito e amordaçado. Kevin Spacey dá a voz ao computador da estação espacial, uma piscadela de olho a HAL, de Arthur C. Clarke.
Uma das críticas mais fervorosas ao filme e ao realizador Duncan Jones vem da Variety, que classifica o filme como um filme de "ficção científica cujos fãs do género que não são ávidos por lasers ou monstros deviam conhecer".
Carregando o peso de ser filho de um dos músicos mais influentes da história da música, Jones afirma não se apoiar no nome do pai, mas que David Bowie é uma figura no qual ele se inspirou para "Moon". "Como eu cresci ao lado do meu pai, é normal que eu me interesse pela ficção científica", disse Jones que não usa o sobrenome do pai na assinatura do filme.
Moon recomenda-se vivamente para todos os fãs de ficção cientifica á séria, para todos os que já viram mais que uma vez filmes como Solaris e 2001, fiquem com a certeza que vão adorar. Moon é o grande filme de ficção ciêntifica do ano.

quinta-feira, outubro 29, 2009

Um Lobisomem Americano Em Londres (1981)

Numa época em que os grandes estudios de Hollywood, e não só, investem milhões de dólares em produções pejadas de efeitos especiais com recurso ao CG, e principalmente, num período onde a esmagadora maioria dos frequentadores dos cinemas são jovens e adolescentes acostumados às imagens e ritmos frenéticos popularizados através da “geração MTV”, parece cada vez mais difícil um filme atravessar décadas e ainda ser considerado um clássico referencial, com potencial jamais superado dentro do seu respectivo género. Dentro desse selecto grupo de pérolas, no topo da lista estará certamente Um Lobisomem Americano em Londres, dirigido por John Landis em 1981.
O filme tem inicio com o genérico de abertura, intercalado pelas imagens das desoladas e inóspitas paisagens do interior da Inglaterra, ao som de “Blue Moon” interpretado magistralmente por Sam Cooke. A noite cai e a negritude do céu não promete nada de bom, quando então vemos uma carrinha de caixa aberta, repleta de ovelhas, parar num cruzamento. Do meio das ovelhas saem David Kessler (David Naughton) e Jack Goodman (Griffin Dunne), dois amigos norte-americanos que estão passeando pela Europa. O motorista da carrinha indica-lhes o caminho até á vila mais próxima, e adverte-lhes para que “evitem os pantanos e fiquem na estrada” (hello! Capuchinho Vermelho written all over it). Os dois jovens seguem caminhando e conversando descontraidamente, hora reclamando do frio, hora motivados com as expectativas da viagem. Sendo nesses momentos iniciais que se percebe a perfeita química entre os dois jovens actores, que de certa forma quase convencem o espectador de que eles são realmente grandes amigos e que se conhecem desde infância. Essa empatia entre o público e os personagens é fundamental para que as cenas posteriores causem o devido impacto a que se propõem.
Paralelamente ao enfoque dado ao suspense e terror, o filme também dá introduz de forma extremamente inteligente o humor, que a partir daqui passou a ser um elemento incorporado em quase todos os filmes de terror desenvolvidos ao longo da década de 1980. Mas quando se fala em humor, é preciso que se tenha a noção de que se trata de um humor subtil e ocasional, e não de algo forçado e que inevitavelmente descamba para a escatologia. Recomenda-se á fartazana.

segunda-feira, outubro 26, 2009

Halloween (1978)

Na noite de Halloween, o psicopata Michael Myers foge do hospital para doentes mentais onde fora mantido prisioneiro durante quinze anos e coloca a pequena cidade de Haddonfield em panico. Esta foi uma das permissas mais simples da história do cinema e que deu origem a um dos filmes mais influentes de terror de todo o sempre, tendo o mesmo inclusivé dado origem aquilo que se viria hoje a chamar de "slasher movie".
Realizado por um então desconhecido e estreante Jonh Carpenter, Halloween foi rodado em apenas 21 dias durante a primavera de 1978, com um orçamento reduzidíssimo de 300 mil dólares. O resultado foi um dos grandes clássicos do cinema de horror que influênciou diretamente slasher movies como Sexta-Feira 13. Suspense doseado de forma magistral, tensão constante, sem derramar uma gota de sangue ao longo de todo o filme. Carpenter aprendeu com Hitchcock que o medo causado pelo que não se vê é muito maior, o que torna desnecessário a violência explícita. Este detalhe é o que torna Halloween superior a filmes similares.
A atriz Jamie Lee Curtis, que interpreta competentemente a jovem Laura Strodie (nome da primeira namorada de John Carpenter), foi recrutada para fazer Halloween por causa da publicidade em torno do seu nome, já que ela era filha de Janet Leigh, que entrou em Psycho (Alfred Hitchcock). Donald Pleasence dá vida ao obestinado Dr. Loomis.
Como o orçamento para rodar Halloween era escasso, a máscara escolhida para ser utilizada por Michael Myers foi a mais barata encontrada numa loja próxima das filmagens, que era exatamente igual à utilizada por William Shatner no filme The Devil's Rain. A máscara sofreu algumas pequenas mudanças, sendo pintada de branco e o contorno dos olhos sofreriam modificações. Ainda para contornar problemas de orçamento, os actores usaram as suas próprias roupas durante as filmagens, já que não fora contratado ninguém responsável pelo guarda roupa.

sexta-feira, agosto 14, 2009

Låt Den Rätte Komma In (2008)

Ficaram confusos com o título não? Pois bem, em inglês chama-se Let The Right One In e é um filme sueco realizado por Tomas Alfredson, passado na Suécia - fotografado maravilhosamente sob um quase constante manto branco de neve - e que aborda a juventude e a inocência a par de um tema habitualmente sobrenatural, os vampiros, retratado aqui de forma muito mais natural. É um daqueles filmes que parece que é só mais um, mas que depois de o vermos mudamos completamente a nossa opinião. Baseado no livro do sueco John Ajvide Lindqvist, que também escreveu o argumento, o filme de Tomas Alfredson surpreende pela positiva e poderá vir a ser um filme de culto dentro do género.O filme conta a história de Oskar, um rapaz constantemente a ser ameaçado e incomodado pelos colegas da turma, que encontra o amor e a vingança em Eli, uma rapariga bonita mas peculiar que afinal é um vampiro. O que parece ser um filme de terror é muito mais que isso, é um drama com um toque de romance e uma história absolutamente espectacular envolvendo tudo. Não cai nos clichés usuais do género e prende o espectador até ao último segundo.
Possuidor de uma fotografia maravilhosa, Let The Right One In sobe ainda mais na classificação pela fabulosa performance dos actores principais, de apenas 12 anos, que convencem e agarram a atenção do espectador. Mais uma vez, a história totalmente aterradora não tem momentos mortos, é sólida e bem construída, deixa perguntas no final do filme, o que é sempre bom, e, mais que isso, a deixa o espectador a roer as unhas para saber o que acontece a seguir.
Vencedor de mais de 40 prémios internacionais incluindo 12 para melhor filme internacional.

segunda-feira, julho 27, 2009

Blood And Black Lace (1964)

Concebido inicialmente pelos co-financiadores da Alemanha Ocidental como um rotineiro thriller policial, Sei Donne per l'Assassino representa um tremendo avanço no desenvolvimento do moderno filme de horror.
Em Blood and Black Lace (1964), Bava retira o ênfase das personagens e suas motivações psicológicas, criando detse modo uma sinfonia operática de violência em que ninguém é o que parece. No paranóico ambiente do filme, não se deve confiar em ninguém. Homens de negócios aparentemente respeitáveis revelam-se assassinos sádicos; todos os outros ou são seguros-de-si e intocáveis (por exemplo, o inspetor) ou traiçoeiros e chantagistas. Mario Bava usa a camara de modo a que o público tome parte da acção, sem encorajar contudo a simpatia do espectador com as personagens; por estas razões, muitos críticos continuam ainda hoje ferverosos opositores de Blood and Black Lace, levando Bava a responder pela criação de uma celebração sem remorsos do sadismo.
Com bastante frequência, as personagens de Bava são marcadas por uma incapacidade de amar. Em nenhum outro filme este conceito é mais aparente. Ainda que a maioria das personagens principais estejam envolvidas em relacionamentos, elas são demasiado embutidas afectivamente para que possam sentir realmente alguma coisa uns pelos outros.
Executado com uma perspicácia mórbida e repleto dos deslumbrantes toques estilísticos que tiveram tão profunda influência em Dario Argento e Martin Scorsese, Blood and Black Lace representa uma etapa lógica na maturidade crescente de Bava como cineasta. Os recursos um tanto esgotados dos géneros do gótico e do peplum deixaram o realizador ansioso por tentar algo novo. Embora um outro seu filme The Girl Who Knew too Much tenha permitido que Bava deixasse pra trás as armadilhas artificiais do filme de época, este ainda sofre de certa falta de maturidade - pode ser o primeiro giallo, mas é um giallo incerto. Em Black Sabath, o realizador deu um passo no sentido correto com o segmento "Il telefono" (seu segundo thriller com ambientação contemporânea), mas é com Blood and Black Lace que surge o género Giallo. É um filme de tal crueldade sem remorsos e cinismo amargo que agitou o género nos seus próprios fundamentos. Visualmente Blood and Black Lace é um dos filmes mais bonitos de Mario Bava: não há um único plano que não seja digno de exposição numa qualquer galeria de arte. A direção de arte de Bava fornece enorme impacto ao espectador . E mesmo a idéia de ambientar um violento thriller nos confins de uma casa de alta costura é um conceito deliciosamente irónico, estabelecendo imediatamente um conflito inquietante entre a acção e o ambiente.
Mesmo se os filmes que veio a inspirar (incluindo Haloween de John Carpenter, 1978, e Cabo do Medo de Martin Scorsese, 1991) não citem directamente Blood and Black Lace, o filme permanesce uma obra de poder e substância, e um clássico em seu próprio direito.