quarta-feira, julho 06, 2005

RAJKO MÜLLER O INSULADO DO DEMO


Isolée (ou Rajko Müller) estabeleceu a base sobre a qual trabalha as suas composições ainda antes do hit «Beau Mot Plage» em 99. Este foi em 99 o que «Rocker» dos Alter Ego foi em 2004: o tema que todos querem remisturar e todos os DJs passam. A diferença está no universo de referências: «Beau Mot Plage» acabou sendo adoptado pela facção house mais tropical e passou a constar de inúmeras compilações que forneciam pistas completamente erradas para se conhecer o resto da música de Isolée. O primeiro single foi editado em 1997 e logo para a Playhouse, editora que partilha a mesma cidade com Müller: Frankfurt. «Rest», o álbum de estreia em 2000, permanece como um dos melhores exemplos em longa-duração do perfeito equilíbrio entre o esqueleto rítmico da Detroit mais purista e melodias que abriam os horizontes até aos trópicos. Na verdade, Müller nunca fixou os seus gostos durante muito tempo, depois de se cansar de pop electrónica e EBM ainda no final de década de 80. Foi um indie kid durante algum tempo, mas a revolução house tomou conta e esse passou a ser o novo padrão sobre o qual a criatividade podia ser testada. A primeira fase enquanto produtor terminou efectivamente com «Rest» e as sequelas de «Beau Mot Plage» (várias versões na Classic, incontornável editora house de Derrick Carter). Em 2003 surgiam «Can't Sleep All Night» e «It's About», dois singles que deixavam transparecer uma nova abordagem funk, de linhas muito mais complexas do que até então, subtilezas e pormenores a cada minuto de audição e toda essa riqueza passa para «We Are Monster», um álbum de pop assente em funk mas sobretudo disco de nova geração, em que se ouve Giorgio Moroder mas só se se estiver com atenção, Metro Area se não se tiverem outras referências e Hans Peter Lindstrom se se quiser ser realmente trendy. Generalidades de um todo que não explicam os momentos de genialidade com que Raijo Müller se/nos diverte – tentem anotar todas as inflexões e mudanças estilos para que percebam o labor minucioso e riqueza de todos os temas. Se Metro Area é um primor de simplificação disco/funk, Isolée é o seu paradigma da complexidade. Philip Sherburne, colaborador da revista Wire, escreveu no seu blog "Não vão a lado nenhum. A não ser que seja para pôr a tocar a vossa cópia de «We Are Monster» de Isolée, que é facilmente o melhor álbum do ano." É isso.

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