quinta-feira, maio 12, 2005

Gangs de Nova Iorque vs. Aldeia Gaulesa



De há alguns anos para cá sinto que o cinema norte-americano e mesmo o europeu entraram numa espécie de velocidade cruzeiro, já não se arrisca na originalidade dos argumentos e na estrutura do filme. Mas de vez em quando (quando o rei faz anos, ou quando as drogas abundam) lá aparece um qualquer produtor que decide apostar em qualquer coisa de diferente, estou me a lembrar de Donnie Darko, O Inadaptado, Being Jonh Malkovich, etc. No entanto, mesmo nestes casos as obras aproximam-se sempre mais do gueto do cinema de autor, como se fosse pecado a comercialidade de um filme.
Já oiço algumas vozes…”Não é bem assim, tem havido coisas até bastante interessantes!”. Tudo bem, mas o ónus continua em histórias que são só para alguns, e mesmo os distribuidores encarregam-se de os promover….não muito, porque isso de o espectador ser inteligente não dá dinheiro!
Por outro lado, casas como a Miramax que foi a grande impulsionadora do chamado “renascimento do cinema americano” em meados dos anos 90, começam agora a usar o termo “independente” como estratégia de marketing para vender autênticos elefantes brancos. Como se o facto do termo “independente” fosse selo de qualidade.
Para além disso, até que ponto o conceito de “filme independente” continua fiel à noção de poucos recursos, isto porque a maioria dos ditos filmes independentes nos dias de hoje têm orçamentos que davam para financiar países de terceiro mundo.



O filme “Kung Fu Hustle” de Steven Chow é um perfeito exemplo em como é possível casar o cinema independente com a vertente mais comercial e pop do mesmo. No entanto, desenganem-se os menos atentos, é que o filme de Chow tem um orçamento que financiaria o cinema português durante 10 anos.
Estamos então perante um dos mais inventivos, inteligentes, divertidos e conseguidos blockbusters asiáticos dos últimos anos. Herdeiro de um humor e escrita que parece resultar de uma fusão entre Buster Keaton e Tarantino, com sequências de acção completamente alucinantes e arrebatadoras (chamo a atenção para uma perseguição diabólica em warpspeed entre uma dona de casa e o herói da fita) e um argumento surpreendentemente bem escrito para o género.
Devem estar a pensar…”Filmes de kung fu não é a minha onda!”. Deixem-me então que vos diga que este vai ser o filme que vos vai fazer mudar de ideias. É despretensioso, inteligente o suficiente em não renegar o humor mais físico, mas contido na sua demonstração mais histérica.
Os heróis aqui não são bonitos. Aqui o herói é uma dona de casa com rolos na cabeça e eterno cigarro ao canto da boca, o alfaiate com excesso de peso e meio careca, o ferreiro meio bicha que distribui pancadaria como ninguém.

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A história é passada na China dos anos 50 (se a memória não me falha) em que tudo é controlado pelo Gang do Machado (Scorsese? Não?). No entanto, existe um pequeno bairro decadente – Bairro do Porco – onde habitam as personagens mais bizarras e que insistem em resistir aos avanços do Gang (Qual Aldeia Gaulesa!).
No meio desta guerra aparecem dois personagens que tentam á força toda serem agiotas, fazendo tudo para extorquir dinheiro a todos os que vão encontrando pela frente, mas a verdade é que nunca o conseguem fazer pelo bom coração que aparentam ter.
Pelo meio á lugar para tudo, mas mesmo tudo!
Só tenho mesmo medo é do título em português que o filme irá ter!

Estreia creio eu em Agosto, e que a barreira da língua e o titulo (prevê-se o pior!) não vos afastem de 2 horas de delírio total.
Kung Fu Hustle Trailer:

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