segunda-feira, maio 23, 2005

Woozismos

John Woo nasceu a 1 de Maio de 1946 no sul da China, tendo iniciado a sua carreira como assistente de realização para os estúdios Shaw Brothers de Hong Kong em 1969. O seu primeiro filme data de 1973, tendo se tornado um realizador prolífico nos mais variados géneros.
Estávamos no ano de 1986 quando em parceria com um então jovem produtor Tsui Hark (Legend of Zu), John Woo realizou aquele que se tornaria o seu tour de force. O filme "A Better Tomorrow" defeniu desde muito cedo a imagem de marca do realizador, que com ele encontrou o seu actor fetiche Chow Yun Fat.
Por outro lado, a industria cinematográfica de Hong Kong nos anos 80 passava na altura por uma crise de valores, na qual o mercado era inundado por filmes maioritariamente de artes marciais, onde o argumento era factor menor e a matéria e a imagética da encenação da acção se evidenciava. Era comum existir uma linha de orientação dramática muitas das vezes esquelética, que ao longo da execução de um filme se ia moldando á cinestesia acrobática dos movimentos dos actores. Com isto os clássicos temas do cinema asiático como a vingança e a traição, eram reduzidos á encenação anti-gravitacional dos corpos.
O filme "A Better Tomorrow" vem romper com os então clichés do cinema de Hong Kong, criando uma atmosfera dramática e trágica, pouco comum para a época e devolvendo á capacidade de representação dos actores o fio condutor da história. Esta 1ª obra de referência do cineasta representa a criação do que viria a ser a sua marca de autor. John Woo faz a fusão de tudo o que se passava então no cinema de Hong Kong, com o seu universo e as suas referências, por onde povoam Jean Pierre Mellville, David Lean, Sam Peckinpah, John Ford e musicais como "West Side Story"; tornando-se evidente o fascinio de Woo pelo cinema norte americano.
Woo encena a acção como se de um musical se tratasse. Assim, o sapateado de Fred Astair é substituido pelos movimentos graciosos de Chow Yun Fat quando este dispara duas 9mm ao mesmo tempo; a introdução de personagens com uma dualidade interna em que o bem e o mal se confundem; as gabardines, os óculos escuros e o palito ao canto da boca ao estilo de Humphrey Bogart; a desconstrução balética da acção que inspirou Matrix; e finalmente a ruptura com a imagem de marca dos filmes made in Hong Kong. Até que ponto "A Better Tomorrow I & II" (a história foi dividida em duas partes devido a exigências dos distribuidores) é relevante para a história do cinema asiático? Bem digamos que sem a obra de Woo não haveria o seu equivalente contemporâneo Infernal Affairs. Da mesmaforma que o filme de John Woo rompeu com as regras do cinema de Hong Kong em 1986, a trilogia Infernal Affairs assumiu a mesma importância em 2001, tirando a industria cinematográfica HK do marasmo a que estava entregue.
Para breve fica uma dissertação sobre a trilogia Infernal Affairs.

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